O historiador José Hermano
Saraiva morreu, esta sexta-feira, aos 92 anos. Foi jurista, ministro da
Educação e autor da "História Concisa de Portugal", mas tornou-se
conhecido do grande público como apresentador de programas televisivos de
divulgação cultural.
José Hermano Saraiva morreu, esta
sexta-feira, em sua casa, no distrito de Setúbal, indicou um familiar a José
Manuel Crespo, produtor do programa que o historiador apresentava na RTP,
segundo disse à agência Lusa Carlos Manuel, assistente do programa da Videofono.
O historiador foi agraciado este
ano, nas celebrações dos 10 de junho, pelo presidente da República, com a
Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Em outubro de 2010, a Academia Portuguesa
da História (APH) distinguiu José Hermano Saraiva como académico de mérito,
salientando ser um "grande divulgador" da História de Portugal.
"A Academia achou que nesta
sua idade, era bonito, agradável, marcar um momento de confraternização com um
homem que fez muitos portugueses conhecer a História de Portugal",
explicou na altura à Lusa a presidente da APH, Manuela Mendonça.
Membro "há muitos anos"
da Academia, José Hermano Saraiva era também membro das academias das Ciências
de Lisboa, da Marinha e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo
(Brasil).
Nascido em Leiria, no dia 3 de
outubro de 1919, José Hermano Saraiva notabilizou-se nas quatro últimas décadas
através de
programas televisivos sobre História.
Licenciado em
Histórico-Filosóficas (1941) e em Ciências Jurídicas (1942), exerceu advocacia e
foi professor do Ensino Secundário. Em 1957 foi deputado à Assembleia Nacional
e procurador às cortes.
Entre outros cargos públicos que
exerceu antes do 25 de abril de 1974, como o de diretor do Instituto de
Assistência aos Menores, foi ministro da Educação Nacional entre 1968 e 1970,
qualidade na qual inaugurou a Biblioteca Nacional de Portugal. Foi substituído
por Veiga Simão, após a crise académica de 1969, tendo sido designado
embaixador de Portugal em Brasília, em 1972.
A colaboração com a RTP começou
em 1971 com o programa "Horizontes da Memória", tendo nesse ano
recebido o Prémio da Imprensa para o Melhor Programa do Ano. Foi ainda autor e
apresentador de "Gente de Paz", que assinalou o seu regresso à RTP em
1978, "O Tempo e a Alma", "Histórias que o Tempo Apagou" e
"A Alma e a Gente".
Um dos seus livros mais
conhecidos é a "História concisa de Portugal", já na 25.ª edição, com
um total de cerca de 180 mil exemplares vendidos. Editado pela primeira vez em
1978, este título foi já traduzido em espanhol, italiano, alemão, búlgaro e
chinês.
O livro foi escrito durante o
exílio a que se impôs na Nazaré, a praia da sua infância, durante o PREC
(Processo Revolucionário em Curso), em 1974-75, a convite do editor
livreiro Lyon de Castro.
José Hermano Saraiva dirigiu
também uma outra História de Portugal em seis volumes, publicada em 1981 pelas
Edições Alfa.
Na área da História, José Hermano
Saraiva publicou cerca de 20 títulos, entre eles "Uma carta do Infante D.
Henrique", "O tempo e alma", "Portugal - Os últimos 100
anos", "Vida ignorada de Camões" ou "Ditos portugueses
dignos de memória".
Na área da jurisprudência editou
sete títulos, nomeadamente "A revisão constitucional e a eleição do Chefe
do Estado", "Non-self-governing territories and The United Nation
Charter" e "Apostilha crítica ao projecto do Código Civil",
tendo ainda publicado cinco títulos na área da pedagogia.
José Hermano Saraiva apresentou à
APH várias orações académicas, tendo sido publicadas sete, a mais recente em 1988,
intitulada "A crise geral e a Aljubarrota de Froyssar".
O historiador foi distinguido com
a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, a Grã-Cruz da Ordem do Mérito do
Trabalho, a Comenda da Ordem de N. S. da Conceição de Vila Viçosa e a Grã-Cruz
da Ordem de Rio Branco (Brasil).