Sarkozy exige que Senado vote lei quase sem debate
Sindicatos agendam nova greve para quinta-feira e protestos a 6 de Novembro. Camionistas portugueses regressam sem problemas.
"É um insulto para o Senado!" e "a sanção chegou" foi a reacção de Jean-Pierre Bel, presidente do grupo do PS, face à exigência do Governo para que a Câmara Alta do Parlamento francês se pronuncie sobre o projecto de reformas por "voto único". Nicolas Sarkozy quer que o texto seja aprovado antes do fim da semana, quando têm início as férias de Todos-os-Santos, por um só voto do Senado enquanto assembleia. Entretanto, os sindicatos convocaram nova greve para quinta-feira, dia 28, e protestos para 6 de Novembro.
Eric Woerth, o ministro do Trabalho e o mensageiro da vontade de Sarkozy junto do Senado, explicou a este que "não se justifica mais 50 horas de debate". E sublinhou: "O debate não deve durar por durar." Para Woerth, o voto no Senado deve acontecer "talvez na sexta-feira [hoje] à tarde".
Previsto pelo artigo 44-3 da Constituição, o "voto único" neutraliza a liberdade dos senadores e não agrada ao presidente do Senado. Gérard Larcher afirmou várias vezes que o "debate iria até ao fim", ou seja, até serem discutidas todas as emendas propostas ao projecto de lei que aumenta a idade da reforma dos 60 para os 62 anos e, para receber a pensão completa, dos 65 para os 67 anos. Larcher sublinhou não gostar de "usar este tipo de procedimento".
A exigência do "voto único", que faz ganhar tempo ao Governo, revela, afinal, que Sarkozy começa a sentir a pressão da rua. Ontem, os protestos de grevistas, alunos e estudantes sucederam-se em todo o país, alguns marcados por confrontos com a polícia. O bloqueio a refinarias, a depósitos de combustível, a portos e a aeroportos foi também uma realidade, apesar de o Presidente ter ordenado, há dois dias, que as forças de segurança lhe pusessem termo.
"Ao fazer reféns da economia, das empresas e do quotidiano dos franceses, vão destruir empregos", alertou ontem Sarkozy durante a sua deslocação a Bonneval, centro do país, onde manteve um encontro com presidentes de câmaras.
Os alertas de Sarkozy não estão, porém, a surtir qualquer efeito: os sindicatos convocaram para quinta-feira uma greve nacional acompanhada por manifestações, protestos que irão também ocorrer no dia 6 de Novembro.
As paralisações em França não estão a ter repercussões só no quotidiano dos nacionais mas também dos camionistas portugueses que tiveram e têm de se deslocar ao país de Nicolas Sarkozy.
António Lóios disse ontem ao DN estar "normalizada" a situação para os camionistas portugueses em França. O secretário-geral da Associação Nacional das Transportadoras Portuguesas (ANTP) confirmou que alguns viveram "situações menos fáceis mas ouviram os nossos apelos, seguiram- -nos e estão de regresso sem problemas". "Hoje [ontem] não se registou qualquer assalto, mas ontem mais seis camiões foram assaltados", adiantou António Lóios.
Nelson, de 34 anos, foi um dos camionistas portugueses apanhados pelos piquetes dos grevistas. "Uma das vezes foi perto de Limoges, ao fim de terça-feira. Estive duas horas na fila", conta. "Na quarta-feira, fui apanhado perto de Bordéus; foram quatro horas de espera", adianta Nelson, que há 14 anos faz viagens de longo curso, daí que tudo isto não seja novidade: "Há oito anos vivi uma situação muito pior perto de Lille."
fonte: DN
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