Vídeo coloca em xeque empresa britânica ligada à morte de angolano
O jornal inglês “The Guardian” divulgou um vídeo em que um indivíduo deportado para África lança gritos lancinantes enquanto é dominado por guardas da empresa G4S, a mesma que na semana passada esteve envolvida na morte em circunstâncias estranhas do angolano Jimmy Mubenga.
Este vídeo, no qual um homem que era deportado para os Camarões, via Quénia, aparece bastante aflito, foi registado no ano passado pelo iPhone de um passageiro de 31 anos que ia no mesmo voo, da Kenya Airways.
A identidade do deportado não é conhecida, ao contrário do que aconteceu com a do angolano e com outro caso entretanto noticiado ontem pelo mesmo jornal, o dos maus tratos infligidos ao colombiano José Gutiérrez, de 37 anos, na noite de 6 deste mês. Mas o vídeo demonstra bem o que passa quando estrangeiros são expulsos à força do Reino Unido, em voos comerciais.
O passageiro que registou a cena explicou ao “Guardian” ter decidido divulgá-la depois de ter sabido que Jimmy Mubenga morrera na sequência da sua deportação, no passado dia 13 de Outubro.
Os detectives que estão a investigar a morte do angolano já começaram a interrogar três guardas da empresa privada G4S, que se apresenta como “o principal grupo internacional com soluções de segurança”, mobilizando 595 mil pessoas.
Eram esses os guardas que escoltavam Mubenga, de 46 anos, num voo da British Airways, depois de rejeitados os seus sucessivos pedidos para continuar a viver no Reino Unido, onde foi condenado a uma pena de prisão por se ter envolvido em desacatos, num bar.
O caso agora documentado em vídeo ocorreu um ano antes, vendo-se nele os guardas a fazerem com que o deportado ficasse quieto no seu lugar; e impondo mesmo um determinante “sente-se!”.
A G4S, que actua em 110 países, explicou ao Ministério do Interior britânico que o homem que deveria ser conduzido aos Camarões se tornara violento e não respeitava as ordens que lhe eram dadas.
O autor da gravação, que pediu para ser identificado apenas como Stephen, contou que os demais passageiros se queixaram da forma como o homem estava a ser tratado, tendo-lhes sido dito que ele se acalmaria mal o aparelho estivesse no ar. Acrescentou que os gritos continuaram durante cerca de 20 minutos, mas que os guardas tentaram impedi-lo de filmar o que se estava a passar.
“Havia sete ou oito tipos na parte de trás do avião, todos de pé em volta das últimas duas filas de lugares. Colocaram-se à minha volta e a situação pareceu-me bastante insólita”, contou a testemunha.
Morte de Mubenga está a ser investigada
Peritos independentes das Nações Unidas em assuntos de direitos humanos manifestaram-se preocupados com a morte do cidadão angolano, que consideram demonstrativa da forma como os emigrantes muitas vezes são tratados em terra alheia.
A secretária de Estado britânica da Segurança, baronesa Neville-Jones, prometeu já na Câmara dos Lordes que as conclusões do inquérito em curso ao caso de Jimmy Mubenga vão ser “levadas muito a sério”, tendo sido esta a primeira vez que se verificou a morte de uma pessoa que estivesse a ser deportada e sob escolta.
Os guardas que acompanhavam o angolano, e que tinham respectivamente 35, 48 e 49 anos, estão a aguardar em liberdade, sob fiança, até Dezembro, o desenrolar do inquérito.
O grupos G4s gere no Reino Unido quatro centros de detenção de imigrantes e quatro cadeias, sendo o principal fornecedor de serviços sempre que se trata de escoltar as pessoas obrigadas a tomar voos de regresso aos respectivos países. A empresa encontra-se em franca expansão, tendo absorvido numerosas concorrentes do sector, tanto na Europa como nos EUA.
fonte: Público
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