Bento XVI pediu perdão pelo "crime hediondo" da pedofilia
Protesto reuniu milhares em Londres. Papa recebeu vítimas de abusos sexuais
Foi com "profunda vergonha" e emoção que Bento XVI pediu perdão a cinco vítimas britânicas de padres pedófilos num encontro privado, realizado ontem na nunciatura apostólica em Londres, no terceiro dia da visita que está a realizar ao Reino Unido.
No encontro que se prolongou por cerca de 40 minutos, Bento XVI terá ficado particularmente perturbado e "emocionado" pelo "sofrimento das vítimas e das suas famílias", lê-se na nota do Vaticano que anunciou o encontro. Das cinco vítimas, cujo sexo não foi revelado, apenas se sabe que três eram provenientes do Norte de Inglaterra, uma de Londres e uma outra da Escócia. Num dos casos, a vítima terá frequentado uma instituição católica na Irlanda.
O Papa assegurou aos seus interlocutores que a Igreja "está a desenvolver uma série de medidas eficazes para proteger os jovens (...) e para levar à justiça os membros do clero e os religiosos acusados por esses crimes terríveis", conclui a nota.
A realização do encontro foi anunciada posteriormente, como sempre sucedeu quando o Papa se encontrou com outras vítimas nas suas deslocações, por exemplo, aos Estados Unidos e Austrália.
Horas antes, numa homilia na catedral católica de Westminster, Bento XVI produzira uma contundente crítica aos autores de abusos sexuais, que classificou como "crime hediondo", e pelos quais pediu perdão às vítimas inocentes.
O Papa foi ainda mais longe, ao reconhecer que a Igreja Católica, como um todo, falhou na forma como lidou inicialmente com estes casos, produzindo uma situação "de humilhação e vergonha" para todos.
Alguns comentadores britânicos referiam que o facto do Papa mencionar o escândalo da pedofilia desde o primeiro dia da sua visita (e de tê-lo feito em termos inequívocos) não será suficiente para muitas dessas vítimas, que criticam o Vaticano "por pedir desculpa, mas não actuar", como dizia à AFP uma americana presente na manifestação de protesto ontem no centro de Londres.
O escândalo da pedofilia envolvendo pessoas e instituições da Igreja Católica persegue Bento XVI desde 2009. Os países onde estes abusos atingiram maior dimensão foram a Irlanda, a Bélgica e a Alemanha. Para os críticos, o Papa permanece reticente em reconhecer a existência de uma estratégia de ocultação sistemática desses abusos ao longo dos anos.
Esta crítica foi uma das ideias-chave que reuniu alguns milhares de pessoas no desfile entre Hyde Park e a zona de Whitehall, onde se situa a sede do Governo. Os organizadores referiram a presença de dez mil participantes; a polícia admitiu apenas a presença de três mil a quatro mil. A manifestação, que reuniu vítimas de abusos sexuais em instituições católicas, partidários da ordenação de mulheres, defensores da contracepção e activistas gay, foi o acto mais relevante de protesto contra a visita do Papa ao Reino Unido. A visita termina hoje em Birmingham - segunda maior cidade inglesa - com uma missa ao ar livre, durante a qual será beatificado o cardeal Newman. Ao mesmo tempo que os últimos manifestantes deixavam Hyde Park, começavam a chegar os primeiros fiéis para uma vigília de oração, com a presença do Papa, em que participaram mais de 80 mil pessoas.
fonte: DN
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