Professores estão a recomendar a crianças entre os seis e os oito anos material de apoio pedagógico com "vulgarismos". Pais indignados
Há escolas que estão a recomendar um dicionário com palavrões aos alunos do 1.º ciclo. A sugestão é feita através da lista de material enviada aos encarregados de educação, apesar de o dicionário, já com o acordo ortográfico, estar recomendado pela editora apenas para alunos a partir do 3.º ciclo.
O Dicionário Básico de Língua Portuguesa, da Porto Editora (capa azul), que custa 5,5 euros, apresenta palavras como "c..." (órgão sexual masculino), "c..." (órgão sexual feminino) e "f..." (acto sexual). Este já circula entre os alunos que frequentam o 1.º ciclo do Agrupamento Vertical de Escolas Cetóbriga, em Setúbal, originando a indignação dos pais e dividindo os docentes.
Mas há muitas mais onde está a ser usado. Várias livrarias contactadas pelo DN em Lisboa, Almada, Barreiro e Setúbal confirmaram a procura do dicionário e por recomendação dos professores do ensino básico. E a Porto Editora revela que o dicionário em que surgem os "vulgarismos" está a ter mais procura este ano, embora desconheça o motivo. O critério para os dicionários destinados aos alunos dos 1.º e 2.º ciclos do Ensino Básico "é não registar vulgarismos", pelo que não é recomendada para crianças entre os seis e os dez anos.
Albino Almeida, da Confederação Nacional das Associações de Pais, não entende a opção das escolas. "É uma riqueza típica de um país pobre que as escolas adoptem um dicionário tão completo." E defende que os estabelecimentos de ensino "deviam manter os tradicionais dicionários escolares".
A opinião é partilhada pela Associação Sindical dos Professores Licenciados. Maria João Gonçalves refere que a escolha do dicionário pertence às escolas, pelo que deveria ser tomada outra opção que impedisse as crianças de contactarem com os palavrões. "Não podemos encarar isso de boa forma e lamentamos que esteja a ser indicado este dicionário", diz.
Manuel Grilo, do Sindicato dos Professores do Grande Lisboa, desconhece que as escolas estejam a recomendar dicionários, por não serem de compra obrigatória. "O normal é que a escolha seja dos pais. O professor só indica que o miúdo vai precisar de um dicionário e cada um compra livremente", sublinha.
Já a Associação de Professores de Português (APP) concorda que os alunos comecem a ter contacto com este tipo vocabulário a partir do 3.º ano. "Uma das regras básicas de um dicionário é incluir palavras desde que estejam consagradas na língua portuguesa. Até mesmo para os miúdos saberem o seu significado. Já Gil Vicente e Camões as escreveram", admite Edviges Antunes Ferreira, da APP. E acrescenta: "Não percebo porque é que a Porto Editora lança o dicionário azul com essas palavras e um cor de laranja que não as tem."
Segundo o Ministério da Educação, a escolha das publicações inscreve-se no quadro de "independência das escolas", sendo que o dicionário "não pode ser censurado porque os vocábulos existem", remata fonte oficial.
fonte: DN
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