quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Esta crise já mexeu com a vida deles


Casos de portugueses que sentem na pele as dificuldades provocadas pela crise. Se este é também o seu caso, conte-nos. Diga-nos o que foi obrigado a mudar na sua vida, para o e-mail online@dn.pt. Só lhe pedimos que inclua o seu nome, idade, profissão e que... seja sucinto.

"Onde querem que corte mais?"

Helena Araújo, 34 anos, Informática, conta-nos que é mãe divorciada. "Perdi o meu emprego no Algarve, onde tinha o apoio da minha mãe e só arranjei emprego em Lisboa, para onde eu e o meu filho tivemos de mudar.
Hoje além de uma renda substancial (500 euros), pago adicionalmente ATL (perto dos 200 euros) e o passe (quase 70 euros) para o transporte diário para o emprego. Tive de andar 6 meses com sapatos rotos sem possibilidade de comprar novos, fazendo agora nos saldos. A minha casa só tem camas, que comprei em segunda mão, porque não tive dinheiro para trazer a mobília que tinha do Algarve. Já cortei no que posso e não posso para tirar o dinheiro para o acréscimo de despesas inerentes a viver sem qualquer apoio do sistema educacional (o meu filho sai das aulas as 13h) e familiar. Onde querem que corte mais? Onde vou buscar o dinheiro agora para MAIS aumentos?!?"

Jantar fora acabou

António Oliveira, bombeiro há 28 anos, completados na segunda-feira, 52 anos de idade, só não tem outro emprego porque a lei não permite. A crise "afecta a vida de todos, e se eles tiram de um lado, nós temos de tirar do outro", diz. Por isso, o habitual jantar fora de casa uma vez por semana quase deixou de existir, assim como as saídas passaram a ser mais moderadas. As férias, essas, são agora obrigatoriamente cá dentro. J.B.

Sem consumo obrigatório

Bruno Silva tem 18 anos e estuda na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda."Hoje em dia, opto por tirar fotocópias em vez de comprar os livros", conta. A crise tem afectado a sua vida de estudante. E a social. Reduziu os almoços e os jantares fora, o cinema deixou de fazer parte da rotina. Compra menos roupa, os concertos e as discotecas foram substituídos por bares sem consumo obrigatório. J.C.

Tudo para manter filho de 5 anos

Carla Rego, 33 anos, casada, professora de Geografia na Escola Secundária Diogo Cão, em Vila Real. Tem um filho de 5 anos e tenta que "tudo quanto a ele diz respeito se mantenha", como infantário, alimentação e vestuário. "Procuro que nada lhe falte, mas para isso tenho de prescindir de várias coisas que eram habituais, as refeições fora de casa, as férias que desde o ano passado já se não gozam, as roupas de que se gosta..." J.A.C.

Pedem cerveja em vez de vinho

Edmundo Marques, 80 anos, viticultor do concelho de Nelas, diz que até pode haver crise, mas não consegue arranjar pessoas para trabalhar na vindima. Ainda assim, admite que "há menos dinheiro a circular. Quem vai ao restaurante já não pede uma garrafa de vinho, pede cerveja". Crítico, diz que as pessoas se habituaram aos subsídios. "Enquanto há dinheiro, vão gastando. Quando acaba… esperam pelo próximo!" A.A.

"Vou menos ao cabeleireiro"

Alda Lambelho, 45 anos, é florista no Fundão. Conta que o negócio se ressentiu muito. "Vendemos menos, logo compramos menos. Isso obrigou-nos a cortar em várias despesas." Em casa também tem apertado o cinto. "Nas compras tento escolher sempre o mais barato e opto por marcas brancas. Vou muito menos ao cabeleireiro, quase não frequento restaurantes e o cinema também foi abolido. Agora vejo filmes em casa." C.C.

"Ando a pé e de bicicleta"

Mário Freire tem 31 anos e é jornalista. Vive em Pombal. Desde que foi preciso apertar o cinto, optou por deixar de fumar e ir menos vezes ao café. O automóvel - agora movido a gás - fica mais vezes à porta de casa. "Só uso o carro quando é mesmo essencial, prefiro andar a pé ou de bicicleta", explica. Os almoços, que antes eram fora, são agora feitos em casa. E na cozinha quase só entram marcas brancas. S.M.F.

"Deixei de ir de férias"

Arminda Sereno, de 51 anos, que vende gelados no Marquês de Pombal, em Lisboa, diz que "a crise afecta muito e está cada vez pior". Por causa disso, "as pessoas compram-me menos coisas e eu faço muito menos negócio", contou. "Tenho de poupar muito. Deixei de ir de férias e fico em casa, que é mais barato. E evito comprar roupas. Não é preciso ter roupa nova para mostrar. É preciso é estar limpa e lavadinha", frisou. D.L.

"Cobro menos 30%"

Paulo Edson Cunha, 41 anos, advogado no Seixal, já costumava pedir aos seus clientes uma provisão de 500 euros quando iniciava qualquer processo jurídico. Actualmente, os dias de crise obrigaram-no a baixar a fasquia para os 350 euros. "Cobro menos 30% que há dez anos", assume, admitindo que para ganhar mais do que há uma década tem de garantir "dez vezes mais processos". R.D.

"Trabalho 14 horas por dia"

Joaquim Dias, de 58 anos e pescador/armador na embarcação Arrifana registada no porto de Faro, trabalhava seis horas por dia. Agora, "são 14 horas para tentar apanhar mais peixe e assim fazer face às despesas", conta. Só em gasóleo, são dez mil euros mensais. Trabalha "de Maio a Dezembro, na pesca da sardinha". O resto do ano não compensa. Dos seus 13 empregados só cinco têm contrato a tempo inteiro. J.M.O.

Livros escolares a crédito

Hilário Lopes, 49 anos, taxista no Funchal diz que "pela primeira vez na vida" foi "obrigado" a recorrer ao crédito para dar estudo aos seus três filhos: comprar livros e material escolar. "Fiz um empréstimo para pagar em 60 meses", conta. Taxista há 21 anos diz que nunca viveu semelhante crise. "Não há turistas em terra. E os turistas dos cruzeiros são agarrados pelas camionetas das agências." Considera a situação "grave". L.B.

fonte: DN

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