Médicos contestam que doentes escolham remédios
Secretário de Estado da Saúde faz anúncio de manhã, Ministério esclarece à tarde. Ordem dos clínicos alerta para riscos
O secretário de Estado da Saúde, Óscar Gaspar, anunciou que a partir de Março do próximo ano os doentes vão poder escolher a marca do medicamento que comprarem desde que a substância seja a mesma que o médico receitou. O bastonário dos médicos alerta para os riscos para a saúde dos doentes desta medida polémica. Mais tarde, questionado pelo DN, o Ministério acabou por dizer que as mudanças serão feitas no consultório e não na farmácia.
Segundo Óscar Gaspar, "a ideia é atribuir ao cidadão a capacidade de escolher os medicamentos mais baratos dentro da terapêutica que o médico prescreveu".
O responsável garante que não será posta em causa a decisão do médico e que haverá a possibilidade de os clínicos "trancarem em absoluto" o medicamento de marca na receita. Se for essa a decisão, então o clínico terá de a justificar. E o doente terá de pagar mais. "Não ficará com a comparticipação de acordo com aquele medicamento específico. Ficará com a comparticipação de acordo com o preço de referência dos medicamentos daquele grupo terapêutico", esclareceu o secretário de Estado da Saúde.
Alterações logo contestadas pelos clínicos. "Nego peremptoriamente que a Ordem dos Médicos alguma vez tenha colaborado com o Ministério da Saúde para a elaboração de uma medida que permita aos doentes mudar o que está numa receita", disse ao DN o bastonário Pedro Nunes, em resposta às declarações da tutela de que as duas entidades trabalhariam em conjunto para a elaboração de uma listagem dos medicamentos que podem ser escolhidos pelo doente.
As razões são simples: "A Ordem não poderá colaborar com a transferência de responsabilidade para o doente. O médico deixa de ter a noção do que este está a tomar, porque não sabe qual a marca do medicamento que levou para casa". E se houver algum problema com um lote de um remédio, o clínico não pode avisar o doente por desconhecer o medicamento que acabou por comprar, ressalva Pedro Nunes.
A lista de perigos não termina por aí. "Muitos doentes não sabem ler e mesmo os que sabem têm dificuldades em dizer os nomes complicados. A forma de identificarem o medicamento é pela cor e pelo formato", afirmou, salientando que "são estes sistemas que levam às vendas por internet e contrafacção".
Em causa está também a segurança. "Se alguma coisa acontecer, ninguém pode responsabilizado porque o doente aceitou a mudança", salientou, defendendo que o médico estará sempre disponível para "encontrar com o doente a melhor solução para ele, mas dentro do consultório".
Horas mais tarde o Ministério da Saúde, questionado pelo DN, rectificou as palavras ditas por Óscar Gaspar.
"Quando o secretário de Estado da Saúde fala em escolha é em conjunto com o médico, em diálogo com o médico ainda no consultório. Em linha total com a campanha do medicamento que lançámos", esclareceu a assessoria do gabinete de Ana Jorge, sem explicar a razão por que seria necessário "trancar" a receita para evitar mudanças.
fonte: DN
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