Testemunhas não pediram protecção às autoridades
Francisco Guerra, considerado a principal testemunha, já foi alvo de fortes medidas de segurança. Hoje vive "tranquilo".
Há sete anos, Francisco Guerra mudava sistematicamente de local de residência. À medida que o seu nome ia sendo conhecido nos bastidores do processo Casa Pia, mais a Polícia Judiciária se mostrava preocupada com a sua segurança. Hoje, apesar do discurso em tom de ameaça de alguns dos condenados do processo, Francisco Guerra garantiu ao DN estar "tranquilo, a viver com normalidade".
A trabalhar há alguns anos no sector da hotelaria, Francisco Guerra até já se cruzou no seu local de trabalho com António Serra Lopes, um dos advogados de Carlos Cruz, e com o embaixador Jorge Ritto, um dos arguidos do processo. O DN testemunhou, há poucos meses, Francisco Guerra a servir um café a Alberto Costa, antigo ministro da Justiça.
Francisco Guerra foi, durante alguns anos, acompanhado de perto por elementos do Corpo de Segurança Pessoal da PSP. Foi considerado uma testemunha importante, por isso, por solicitação do Ministério Público (MP), foi colocado sob um programa de protecção de testemunhas. Só em 2008 é que as vítimas de abuso sexual passaram a integrar uma espécie de catálogo que dá direito a protecção automática a uma testemunha sem necessidade de uma iniciativa do MP. Compete à Comissão de Programas Especiais para Protecção de Testemunhas atribuir a segurança pessoal.
Apesar da aparente tranquilidade das testemunhas, o psiquiatra Álvaro Carvalho, que as tem acompanhado ao longo dos últimos anos, mostrou-se, ontem em declarações ao DN, preocupado com a estabilidade emocional de alguns jovens. Um deles, contou Álvaro de Carvalho, que se encontrou na assistência, atravessa "uma fase muito difícil". Já Pedro Namora, advogado e antigo casapiano, lançou o alerta mais forte: "Os jovens estão com medo de serem vítimas de agressão por parte dos arguidos", declarou ao DN, tendo como pano de fundo as declarações do ex-provedor adjunto Manuel Abrantes, que, após a leitura da sentença, prometeu uma "caça ao homem".
Advogado 'arrefece' cliente
Ontem, porém, o seu advogado, Paulo Sá e Cunha, veio pôr alguma água na fervura, procurando arrefecer as declarações do seu cliente: "São declarações que são proferidas num momento de grande exaltação. Achava até preferível que as pessoas evitassem falar a quente. As reacções a quente nunca são reacções esclarecidas e muitas vezes são excessivas e passíveis de várias interpretações", declarou o advogado.
Paulo Sá e Cunha recordou que Manuel Abrantes defendeu, em várias ocasiões, que as "vítimas tinham sido instrumentalizadas para a realização de outras finalidades e portanto proferiu estas palavras num estado de grande emoção e porventura não terá sido feliz naquilo que disse".
Além de Francisco Guerra, outras testemunhas do processo tiveram, durante alguns anos, direito a segurança pessoal, assegurada pela PSP. Os jovens eram, normalmente, transportados para tribunal para prestar depoimento em carros a alta velocidade e com a cara tapada. No interior do tribunal, estavam sempre vigiados de perto pelos agentes da PSP, que evitavam qualquer contacto directo entre eles e os arguidos.
fonte: DN
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