Maré Negra: Plataforma tinha alarme desligado
Trabalhadores da 'Deepwater Horizon' revelam existência de falhas sistemáticas nos equipamentos
O fogo surgiu e alastrou-se pela plataforma Deepwater Horizon a 20 de Abril, sem ser detectado, porque estavam desligados os sistemas de aviso em caso dos gases combustíveis atingirem o ponto de ignição. Sistemas deliberadamente desactivados para não perturbarem com as suas sirenes o descanso do pessoal da plataforma situada no Golfo do México.
Esta extraordinária revelação foi feita ontem por Michael Williams, o principal técnico de electrónica em funções na Deepwater, durante uma audição no âmbito do inquérito em curso às causas daquele que é o maior derrame de petróleo na história dos Estados Unidos.
Mais extraordinário ainda, de acordo com as declarações de Williams, é o facto de os sistemas de detecção estarem desactivados há pelo menos um ano para as "pessoas não acordarem às 03.00 da manhã com alarmes falsos", disse este antigo marine que escapou ao fogo saltando para a água.
O fogo provocou 11 mortos e a destruição da plataforma avaliada em 560 milhões de dólares (437 milhões de euros).
No inquérito, que está a decorrer em Nova Orleães, no estado da Luisiana, sucederam-se ao longo desta semana depoimentos de trabalhadores a revelaram a existência de inúmeras deficiências de funcionamento. Estas eram principalmente falhas de energia, fugas em diversos equipamento e problemas nos computadores.
Os sistemas de aviso não foram o único equipamento a ser desactivado. O sistema de exaustão de gases perigosos no poço de perfuração estava também desligado. E quando Williams terá perguntado ao responsável daquele sector por que é que isso sucedia, este ter-lhe-à respondido que estava desligado "há cinco anos".
Esta prática é frequente, segundo o The Washington Post, que escrevia ontem na sua edição online serem comuns as multas das autoridades federais aos operadores responsáveis pelas plataformas petrolíferas. Estes desligam os dispositivos de segurança para evitarem atrasos nos trabalhos ou a sua interrupção.
Porém, Williams salientou que, além da desactivação daqueles dispositivos, os equipamentos da plataforma apresentavam frequentes deficiências no seu funcionamento. "A plataforma estava mesmo em mau estado", referiu o engenheiro.
A viúva de uma das vítimas prestou também declarações ontem, reforçando a imagem negativa descrita por Williams. "O meu marido dizia que este era um poço para o inferno [well from hell, em inglês]" e o termo "era corrente" entre o pessoal da plataforma, disse Natalie Roshto, que ficou viúva aos 21 anos.
A aproximação da tempestade tropical Bonnie (ver gráfico) ao Golfo do México forçou a suspensão dos trabalhos para estancar definitivamente o derrame do poço que era explorado pela Deepwater Horizon.
Os barcos envolvidos na operação serão retirados "provavelmente por 48 horas", anunciou o responsável pelas operações, almirante Thad Allen.
A tempestade deve atingir a zona afectada pelo derrame durante o dia de hoje.
fonte: DN
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