Wikileaks. Talibãs abrem caça aos informadores
Pentágono diz que Julian Assange tem as "mãos manchadas de sangue" e não sabe, para já, como lidar com o Wikileaks
Kandahar: bastião de rebeldes e pesadelo das tropas da coligação
Nos 92 mil documentos divulgados esta semana pelo Wikileaks, na série "Relatórios de Guerra", encontram-se notícias para todos os gostos. Com maior ou menor grau de novidade noticiosa, apura-se o papel duplo do Paquistão, revelam- -se erros operacionais das tropas americanas e descobrem--se novos arsenais dos talibãs.
Mas também lá estão os nomes e as moradas dos afegãos que cooperam com a NATO na guerra. E como num país como o Afeganistão os mapas podem não ser grande ajuda, acrescentam-se as coordenadas GPS dos colaboradores. Ao contrário das primeiras, os jornais não publicaram estas informações, mas elas estão disponíveis online e fazem as delícias dos talibãs. "Vamos estudar os documentos", disse ontem o porta-voz do grupo Zabihullah Mujahid, que acrescentou: "Se há espiões americanos, agora sabemos como puni-los."
No meio da maior fuga de informação da história americana recente, confirma-se uma das piores perspectivas dos decisores militares de Washington no que diz respeito à segurança dos contactos afegãos dos aliados. "Passei parte da minha vida nos serviços de informações e um dos princípios sacrossantos é proteger as fontes", admitiu na noite de quinta-feira Robert Gates, o homem que liderou a CIA antes de passar para os comandos do Departamento de Defesa.
Num teatro de operações extraordinariamente difícil, onde a conquista dos "corações e almas" afegãs é uma peça central, a fuga de informação anuncia um dano irreparável para as forças americanas. Se a cooperação com os aliados já era missão arriscada para os afegãos - sobretudo baseado no elemento confiança - agora ainda mais. "Se eu fosse afegão trabalharia para os militares americanos arriscando a que me cortassem as orelhas ou a cabeça?", interroga-se o antigo operacional de campo da CIA Robert Baer ao "Politico".
Ontem o homem que juntamente com Julian Assange gere o Wikileaks, o berlinense Daniel Schmitt, mostrou--se orgulhoso do trabalho do site que deixa empresas e governos com ataques de nervos: "Estamos a mudar o jogo", disse o especialista em tecnologias de informação de 32 anos.
Opinião bem diferente tem o chefe do Estado Maior conjunto norte-americano, Mike Mullen. "O senhor Assange pode dizer aquilo que quiser sobre o bem maior que ele e a sua fonte dizem fazer. A verdade é que a esta hora já deve ter as mãos manchadas do sangue de algum soldado ou de uma família afegã."
No Pentágono a ideia é levar a investigação sobre as fugas de informações até às últimas consequências - o FBI juntou-se às diligências que têm como único suspeito o soldado Bradley Manning -, mas fica claro que ninguém sabe ao certo se o Wikileaks pode ser alvo de uma investigação criminal. E porquê? Steve Myers explica no "Poynter". "Assange descobriu que ser sem-abrigo na internet significa poder ir a jogo sem estar sujeito às regras de quem quer que seja."
fonte: Jornal i
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