sexta-feira, 16 de julho de 2010

Pós 11/9. Governo Blair foi cúmplice na tortura de alegados terroristas

Exposição de documentos secretos revelam proximidade de Blair às "operações de capitulação" e tortura de suspeitos de terrorismo


Pouco depois dos ataques terroristas às Torres Gémeas, Martin Mubanga viaja do Afeganistão para a Zâmbia - e ter o carimbo afegão no passaporte no início da guerra ao terrorismo é sinónimo de problemas. Em 2002, Mubanga é detido numa operação conjunta das forças zambianas e americanas. É então que começa o pesadelo de um cidadão britânico a quem o seu governo virou literalmente as costas. "Em nenhuma circunstância Mubanga deverá regressar ao Reino Unido" ordena o gabinete do primeiro-ministro. Em Lusaca, os serviços consulares britânicos falam da "esquizofrenia política em Londres" e o ministério dos Negócios Estrangeiros frisa que Mubanga tem direito a assistência consular. Mas Londres lavou as mãos do assunto e Mubanga acaba por passar 33 meses em Guantânamo, Cuba. Esta é uma das histórias que a edição de ontem do "The Guardian" conta na sequência da divulgação de documentos secretos que revelam a cumplicidade do governo trabalhista de Tony Blair e das agências secretas britânicas na tortura de suspeitos de terrorismo no pós-11 de Setembro.

Hoje, Mubanga é um dos seis cidadãos britânicos que decidiram mover uma acção judicial contra os responsáveis pelos abusos. A tinta negra que cobre as dezenas de documentos que fazem parte do seu ficheiro não permitem tirar conclusões. Mas há outras coisas que se sabem. Mostrando uma desorientação clara relativamente à gestão dos casos de cidadãos britânicos - todos de origem muçulmana - detidos pelas forças americanas, o governo trabalhista "não apenas caminhou ombro a ombro com os Estados Unidos à medida que o país embarcava no seu programa de "capitulação" e tortura de suspeitos de terrorismo, como decidiu participar activamente nele" escreve o "Guardian".

Nos documentos apresentados durante o processo judicial, fica também claro que o "Foreign Office" decidiu, em Janeiro de 2002, qualificar a transferência de cidadãos britânicos do Afeganistão para Guantânamo como a "opção preferida." Ainda de acordo com o diário britânico, um dos documentos mostra a indiferença dos agentes do MI5 perante os claros problemas físicos de Omar Deghayes, britânico de origem líbia, durante um interrogatório numa base americana no Afeganistão.

No início do mês, o governo de coligação de conservadores e liberais chefiado pelo tory David Cameron, abriu um inquérito para investigar as acusações que apontam para a cumplicidade de oficiais britânicos com actos de tortura em solo internacional. "Acreditamos que é hora de resolver esse assunto de uma vez por todas", disse Cameron perante o parlamento, apresentando o final do ano como data indicativa para apresentação das conclusões da investigação. Um prazo que poderá ser largamente ultrapassado tendo em conta que o governo já identificou mais de 500 mil documentos considerados relevantes para o processo. Tony Blair ainda não mostrou disponibilidade para comparecer perante a comissão de inquérito, ao contrário de antigos ministros do seu governo. Jack Straw, David Blunkett, David Miliband e Alan Johnson - bem como os chefes das agências de informações MI5 e MI6 - já confirmaram que estão disponíveis para prestar depoimento no caso de serem chamados por sir Peter Gibson. Actual comissário dos Serviços Secretos, Gibson está a liderar o inquérito independente que parte da acusação partiu de seis antigos detidos que foram vítimas de tortura no Paquistão, Afeganistão e Marrocos.
 
fonte: Jornal i
 

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