Políticos chamados a doar 20% dos salários para fundo
A Igreja pediu, ontem, quinta-feira, aos políticos católicos 20% dos seus salários para um fundo social gerido pela Cáritas, no sentido de darem o exemplo para outros sectores da sociedade. O apelo foi mal recebido pelos partidos. No próximo mês, o fundo terá conta própria.
O desafio partiu de D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa que preside à Comissão Episcopal da Pastoral Social, na sequência da reunião do Conselho Consultivo. Ao JN, explicou que a proposta visa pedir um "testemunho voluntário" aos políticos cristãos, doando 20% dos salários para ajudar as vítimas da crise e da pobreza. A Cáritas gere o fundo e já deu 30 mil euros que resultaram da venda de velas no Natal.
A mensagem, garante o bispo, não se dirige apenas aos políticos mas a todos os que estão numa situação económica que lhes permita contribuir. Porém, os políticos podem dar "um sinal de que estão dispostos a sacrificar-se" e um exemplo que "arraste" outros.
Da Esquerda à Direita, a sugestão foi mal recebida. Os partidos criticam o enfoque nos políticos e lembram que o voluntarismo é pessoal. Manuel Alegre, porém, diz-se disposto a contribuir.
O porta-voz do PS, Vitalino Canas, contestou, ao JN, a lógica de que "os políticos têm sempre de dar mais do que os outros". A seu ver, "toda a sociedade tem de contribuir para diminuir as desigualdades", num "esforço comum de todas as instituições", incluindo a Igreja, e "sem especificar se são "sacerdotes, políticos" ou outros.
Para Miguel Macedo, líder da bancada do PSD, o político "é um cidadão como outro qualquer e fará o que bem entender, de acordo com a sua responsabilidade e consciência social". "Não ponho de parte o valor do exemplo", ressalvou, notando que, "por iniciativa do PSD, os políticos passam a receber menos". Já Pedro Mota Soares lembra a proposta do CDS para os políticos abdicarem do 13º mês, enquanto o comunista Bernardino Soares recusa "alinhar" numa "campanha" que desvia a atenção do aumento de impostos.
José Manuel Pureza, líder parlamentar do BE, nota que o testemunho pedido vai "depender de cada um". E preferia ver da "hierarquia católica" uma proposta "forte em matéria de imposto sobre as grandes fortunas ou de crítica do aumento do IVA para produtos de primeira necessidade".
D. Carlos Azevedo deixou claro que o desafio se insere num apelo mais amplo para um "pacto" e "mais responsabilidade social e política perante a crise". E "soluções corajosas". Quanto ao fundo, a aplicação caberá às paróquias, pelo maior o conhecimento das situações críticas.
Ao JN, o presidente da CáritasPortuguesa, Eugénio Fonseca, explicou que irá recolher os donativos e que, "em Agosto, já estará a funcionar" uma conta para o efeito. As cáritas diocesanas farão chegar os pedidos. Além dos vicentinos (Sociedade S. Vicente de Paulo), colabora a Comissão Nacional Justiça e Paz. O apelo aos "políticos cristãos" é para que "dêem um sinal" num momento em que "é preciso reforçar a solidariedade". E os 20% são indicativos. Mas o apelo "é também para empresários" e "todos aqueles que possam disponibilizar alguma percentagem sem colocar em risco a sua subsistência".
O vice-presidente da Associação Cristã de Empresários e Gestores, Fernandes Thomaz, ainda não conhece a proposta . Mas diz que "mais importante do que descontar dos salários, aliviando a consciência" dos políticos, é reclamar "políticas correctas".
fonte: JN
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