sábado, 17 de julho de 2010

Vazamento: etapa mais difícil ainda está por vir, diz analista


Petróleo confinado por bóias de contenção ao vazamento é queimado no Golfo do México

Pela primeira vez desde a explosão da plataforma Deepwater Horzion no Golfo do México, que deixou 11 mortos no dia 20 de abril, a British Petroleum (BP) conseguiu, na última quinta-feira, parar o vazamento responsável pelo maior desastre ambiental da história mundial. Na opinião de Celso Morooka, professor do Departamento de Engenharia de Petróleo e Pesquisador do Centro de Estudos do Petróleo (Cepetro) da Unicamp, tudo indica que o vazamento está realmente contido.

Porém, mesmo que o sistema impeça que mais óleo volte a jorrar até a entrada em operação de poços alternativos que estão sendo construídos ao lado do original, este é apenas o primeiro passo da série de medidas que a BP precisa tomar, segundo Ricardo Baitelo, coordenador da Campanha de Energias Renováveis do Greenpeace no Brasil. Depois disso, vem a necessidade de impedir que a mancha de óleo continue se alastrando e a limpeza - etapa mais complicada na opinião de Baitelo. "A limpeza é muito difícil porque o óleo está em diferentes profundidades", explica.

O teste que conseguiu parar o vazamento consiste na colocação de uma cápsula no poço com o objetivo de verificar se a pressão no mecanismo está baixa, o que poderia significar que o petróleo está vazando em outro ponto ou que a jazida está começando a se esgotar; ou alta, o que indicaria que não há outros vazamentos. Para chegar a tal conclusão, foram instalados sensores acústicos capazes de detectar um eventual fluxo de petróleo. A operação é considerada "muito delicada" pela BP. O principal desafio era instalar a "tampa" no poço a uma profundidade de aproximadamente 1,5 mil m, o que nunca tinha sido feito antes.

Uma vez concluídos os testes de pressão, a BP e o governo americano teriam a opção de deixar o poço fechado à espera do fim da construção do poço alternativo, apontado como a solução definitiva para o desastre ecológico no Golfo. Mesmo assim, a alternativa mais provável segundo declaração feita pelo almirante da Guarda Litorânea, Thad Allen, na quinta-feira, é a de abrir o obturador e permitir que o petróleo flua pelas tubulações de contenção. A bomba tem capacidade para abrigar até 80 mil barris de petróleo, que são transferidos para vários navios na superfície por meio de encanamentos.

Pelas últimas estimativas oficiais, até agora, o poço ficou expelindo petróleo para o mar a um ritmo entre 35 mil e 60 mil barris diários. Segundo Morooka, assim que o poço alternativo estiver pronto, este onde ocorre o vazamento "deve ser fechado definitivamente e abandonado".

Dois poços alternativos estão sendo cavados pela BP desde maio sob o leito marítimo. O poço em processo mais avançado está a entre 1 e 2 m horizontais de distância do poço original. Uma vez juntos, a BP injetará uma mistura de cimento e barro pesado através do duto auxiliar para bloquear permanentemente o vazamento. O segundo poço alternativo será usado só se houver algum problema com o principal. Embora o poço auxiliar possa interceptar o que está avariado até o fim de julho, a BP diz que mantém a meta de estancar definitivamente o vazamento até meados de agosto.

Terceira tarefa, e supostamente mais complicada, a limpeza, embora já tenha começado, avançou pouco enquanto o vazamento não era estancado e foi suspensa durante o último teste. Embarcações pequenas e de grande porte, como o gigantesco navio taiuanês A Whale "absorvem o petróleo e a água 'empetrolada' e depois filtram o petróleo e expelem a água", conforme explicou o porta-voz da BP Toby Odone em entrevista coletiva recente. Assim que o vazamento for contido em definitivo, a limpeza deve se tornar a maior preocupação da BP. O tempo que ela pode levar é imprevisível, de acordo com Baitelo. "O acidente do Exxon Valdez - petroleiro que bateu em um recife na costa do Alasca em 1989, provocando o derramamento de 42 milhões de litros de óleo no mar - ainda traz problemas", lembra.

Segurança

Embora grande parte da atenção mundial só tenha despertado para os perigos da exploração de petróleo após o acidente com a plataforma da BP, Baitelo afirma que este risco não é novidade e chama a atenção para o caso do Brasil. "No caso brasileiro, o risco é até maior", diz.

Na contramão de Estados Unidos e de países da Europa, que suspenderam temporariamente projetos de exploração de petróleo e gás em águas profundas dos Mares do Norte, Negro e Mediterrâneo após o desastre no Golfo do México, o Brasil iniciou a produção de óleo da camada do pré-sal, garantindo que a produção nas bacias nacionais está apenas começando e que as normas de segurança adotadas aqui estão entre as melhores do mundo. Para Baitelo, embora as empresas exploradoras garantam que estão fazendo todo o possível para mitigar os riscos de novos desastres, uma situação como esta "é imprevisível". "O mais eficiente seria reduzir o uso do petróleo. Nós não só estamos correndo riscos, como o de explosão, mas também contribuindo com o aquecimento global", afirma.

Para Morooka, as companhias do setor já estão reforçando as medidas de segurança desde a tragédia no Golfo do México, mas só depois de saber exatamente o que aconteceu na plataforma da BP poderão traçar novas e mais adequadas estratégias. "Penso que todos ficam agora na expectativa de se entender o que ocorreu tecnicamente para tomar medidas definitivas. Órgãos reguladores devem estar também bastante envolvidos para se estabelecer eventuais novas medidas para evitar acidentes como o ocorrido e contenção de acidentes como este", diz.

O professor da Unicamp não tem dúvidas de que este endurecimento nas medidas de segurança acabará ocorrendo. "As exigências para segurança das operações de perfuração e produção de poços de petróleo certamente ficarão mais rigorosas, significando que novas barreiras de segurança para operações deverão ser exigidas junto às operadoras da indústria do petróleo". Porém, ele explica que esta mudança não será, necessariamente, rápida. "Este processo poderá ser gradativo, à medida que a ocorrência no Golfo venha ser esclarecida e entendida tecnicamente, e assim, procedimentos e, eventualmente, também novas tecnologias necessitem ser desenvolvidas", diz.

Moratória

No dia 12 de julho, o governo dos EUA decretou uma nova moratória para manter temporariamente a suspensão nas perfurações petrolíferas em águas profundas no Golfo do México. Ela vai vigorar até o dia 30 de novembro e faz parte da luta contra novos acidentes. Após o início do vazamento, o governo de Barack Obama já tinha suspendido a concessão de novas formas para busca de jazidas de petróleo e suspendido a perfuração em 33 poços já abertos no Golfo.

A União Europeia (UE) também anunciou no dia 14 de julho que estuda aprovar a proibição total de perfurações de petróleo em águas profundas. Guenther Oettinger, comissário europeu de Energia, disse que "uma moratória para novas perfurações pode ser uma boa ideia". Ele anunciou também uma revisão das regras de segurança de perfuração e um limite de licenças para empresas baseado no dinheiro que elas têm para cobrir gastos de limpeza para um eventual acidente como o da BP.

fonte: terra

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