quinta-feira, 22 de julho de 2010

Salazar poderia ter sido recordado como o maior investidor de Portugal


A agência Bloomberg escreve hoje que o antigo ditador António de Oliveira Salazar poderia ser recordado como o melhor investidor que Portugal já teve, caso o banco central português autorizasse o país a beneficiar das suas reservas de ouro.

Em proporção com o tamanho da economia, Portugal armazena mais ouro que qualquer outro país na Europa, a maioria do qual acumulada durante os 36 anos da ditadura de Salazar com poupanças e o dinheiro das exportações portuguesas, incluindo volfrâmio (tungsténio) e da indústria conserveira.

Segundo a Bloomberg, a valorização de 26 por cento do ouro nos últimos anos faz com que Portugal detenha um ativo cada vez mais valioso, ainda que seja um recurso ao qual um governo endividado como o português não pode recorrer, devido às leis que regem o banco de Portugal.

"Com o aumento do preço do ouro, fica-se com ganhos acumulados, mas não se pode transformá-lo em dinheiro", declarou à Bloomberg David Schnautz, do Commerzbank AG em Londres. "É um colchão para um cenário extremo".

O défice orçamental de Portugal está três vezes acima do limite aplicável aos membros do euro e a sua dívida externa vai chegar aos 84 por cento do PIB este ano. A agência de notação Standard & Poor’s deu a Portugal o segundo pior rating dos 16 países da Zona Euro, apenas precedido da Grécia.

As 382,5 toneladas de ouro que Portugal tem estão avaliadas em 14,7 mil milhões de dólares, cerca de 6,8 por cento do PIB português após conversão para euros, indicam os cálculos da Bloomberg e os dados do FMI. O ouro das reservas de Itália corresponde a 4,8 por cento da sua economia, seguida da Alemanha com 4,2 por cento. Já as reservas da Grécia valem 1,4 por cento do seu PIB.

A agência de notação Moody’s, que cortou o rating de Portugal em dois níveis a 13 de julho, apenas olha para as reservas de ouro nos casos em que os governos precisam de gerar dinheiro em divisas fortes como o dólar e o euro. E isso não se aplica a Portugal, declarou Anthony Thomas, analista de dívida soberana da Moody’s citado pela Bloomberg.

O ouro de Portugal é gerido pelo Banco de Portugal, cuja regulamentação indica que os ganhos procedentes das vendas de ouro têm de ser colocadas numa conta e não podem ser transferidas para o tesouro público. O Banco de Portugal paga um dividendo todos os anos ao governo por ganhos com juros e com os títulos de valor mobiliário. O dividendo pago em 2009 foi de 203 milhões de euros, indicou o BdP à Bloomberg a 2 de julho.

Um responsável do Banco de Portugal escusou-se a prestar declarações à Bloomberg sobre a gestão das reservas de ouro, tal como a porta-voz do ministério das Finanças.

fonte: Jornal i

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