Militares e diplomatas fora do comando das 'secretas' da defesa
Pela primeira vez, o SIED é chefiado apenas por profissionais da 'intelligence'. A escolha, esta semana, de um homem da 'carreira' para director adjunto suscita preocupações.
A nomeação do novo director adjundo do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), um profissional da intelligence, no quadro destas "secretas" desde a sua criação, está a causar algumas preocupações a analistas do sector. Com outro homem da "carreira" a dirigi-lo desde 2008, Jorge Silva Carvalho, esta escolha faz com que, pela primeira vez em 25 anos de história do Serviço de Informações da República Portuguesa (SIRP), um dos seus "braços" seja chefiado por dois profissionais de informações.
Desde a sua criação em 1997 que o SIED, a quem compete produzir informações visando "assegurar a salvaguarda da segurança externa do Estado Português e a defesa e protecção dos interesses nacionais no mundo", tem sido comandado apenas por militares ou diplomatas.
Só com a nomeação de Jorge Silva Carvalho a regra se alterou, embora o cargo de director adjunto continuasse a ser preenchido por militares ou diplomatas. Mas, terça-feira, esse ciclo rompeu, com a escolha para esse cargo de outro homem da "casa". O eleito é João Pereira Bicho, 38 anos, licenciado em Direito pela Universidade Católica e que chefiava no SIED o departamento África, o mais importante do serviço. Substituiu a diplomata Helena Paiva.
A favor desta nomeação estão argumentos que valorizam o facto como um "sinal de maturidade da organização", expresso pelo aumento de projecção da sua capacidade operacional externa. O desempenho do SIED foi, aliás, recentemente elogiado pelo próprio Conselho de Fiscalização do SIRP, que destacou os resultados obtidos por este serviço, com menos meios e menos recursos financeiros que o "parceiro" SIS. O SIED garante cerca de 80% das informações trabalhadas por todo o dispositivo das "secretas".
Mas o afastamento do sector diplomático e militar da "cabeça" dos espiões leva analistas a questionarem as vantagens que haverá para o interesse nacional e defesa do Estado deixar de ter na direcção gente com ligação directa ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) ou ao Ministério da Defesa (MDN).
O presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), José Manuel Anes, "lamenta" a opção tomada. "A ligação ao MNE é indispensável para um serviço como o SIED", sustenta, "receio que isto possa comprometer mesmo os interesses do Estado, uma vez que o SIED pode deixar de ter acesso a toda a uma rede de contactos na esfera diplomática, essenciais para definir uma estratégia eficaz de salvaguarda dos nossos interesses no mundo".
Garcia Leandro manifesta idênticas apreensões. O general acha "estranho e inédito em serviços desta natureza e entendo que é prejudicial porque limita a capacidade dos serviços de segurança. Quer os militares quer os diplomatas têm uma visão muito importante da política externa". Garcia Leandro e José Manuel Anes entendem que há "toda a vantagem em alargar contactos" e não "concentrar as informações apenas sobre o próprio serviço".
fonte: DN
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