Revelada face oculta da guerra contra talibãs
EUA classificam como crime divulgação de milhares de relatórios confidenciais.
Irão e Paquistão estão a colaborar com os talibãs na luta contra as forças da NATO no Afeganistão. Esta é uma das conclusões contidas nos 92 mil documentos militares secretos americanos, ontem lançados na Net pela organização WikiLeaks, e que constituem um diário do conflito desde Janeiro de 2004 a Dezembro de 2009. Os militares da força internacional, revelam ainda os textos em causa, terão provocado a morte a centenas de civis - pelo menos 195 - , muitas vezes durante operações que correram mal ou em acções de bombardeamento feitas por drones (aviões sem piloto) comandado, por satélite, a partir do Nevada.
A maior fuga de informação da história militar americana dá ainda conta de que os EUA ocultaram provas de que os talibãs têm ainda em seu poder mísseis Stinger e outros que têm utilizado para abater os helicópteros das forças da coligação. Estes mísseis foram fornecidos por Washington à resistência afegã - os mujaedine - que lutava contra a ocupação soviética nos anos 80. Também não foram dados a conhecer ao público os massacres feitos por talibãs de que levaram à morte de dois mil civis.
Teerão, de acordo com estes documentos, tem tido um papel significativo na ajuda aos talibãs. Dinheiro, armas, treino e refúgio têm sido facultados aos insurrectos, afirmam os textos que consideram estar o Irão a tentar alargar a sua influência no Afeganistão.
Mais grave, tendo em conta as relações Islamabad-Washington, é a forma como está a agir o Paquistão. Segundo os textos, enquanto recebia ajuda dos EUA, o Paquistão, nomeadamente através dos seus serviços secretos, colaborava activamente com os talibãs, organizando inclusive uma rede extremista para lutar contra os soldados americanos. Ussama ben Laden, o líder da Al-Qaeda, terá tido mesmo reuniões na cidade paquistanesa de Queta.
A imagem do Afeganistão também não surge muito bem nos documentos que foram enviados pela WikiLeaks aos jornais britânico The Guardian, americano The New York Times e à revista alemã Der Spiegel. O Pentágono gasta milhares de milhões de dólares a treinar forças afegãs - polícias e militares - que, afinal, se revelam brutais para com os civis, corruptas, ineficientes. Muitos acabam por roubar armas e carros e aliam--se aos talibãs. Muitos dos carros - as carrinhas de caixa aberta - têm sido usados em atentados contra as forças da coligação.
"Chocado" com a extensão das fugas de informação foi como o Presidente afegão Hamid Karzai reagiu ao saber da publicação dos documentos que, opinou, " na sua maioria não têm nada de novo".
Karzai, ontem, estava mais preocupado com a morte de 52 civis numa aldeia no Sul do país. O Presidente exigiu uma investigação para saber se se tratou de um ataque dos talibãs ou de mais um "erro" da NATO. Ao fim do dia, os responsáveis divergiam nas suas declarações: Karzai garantia ser da "NATO, o míssil que matou 52 civis inocentes, na sua maioria mulheres e crianças". O almirante Greg Smith, chefe da comunicação da Força Internacional de Assistência à Segurança no Afeganistão (Isaf), rejeitava a acusação de Karzai e afirmava ser "infundada toda a especulação sobre perdas de civis" pela acção das tropas da coligação.
Entretanto, Washington, Londres e Berlim reagiram à publicação dos documentos sobre o conflito. Para os EUA trata-se de uma acção "irresponsável" e susceptível de "pôr em perigo a vida de americanos e dos nossos aliados e de ameaçar a segurança nacional" americana. A Alemanha exigiu a "investigação" de todas as revelações e o Reino Unido disse esperar que elas não "envenenem a atmosfera" no Afeganistão, onde estão 266 militares portugueses.
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