domingo, 11 de julho de 2010

O misterioso caso do 'doutor morte'


Médico nazi matou centenas de pessoas em campos de concentração. Usava o crânio de uma das suas vítimas como pisa-papéis, operava sem anestesia e cronometrava o tempo que os prisioneiros demoravam a morrer. Autoridades continuam à procura de provas oficiais da sua morte

Todos os dias caminhava mais de 20 quilómetros por entre as movimentadas ruas do Cairo. A máquina fotográfica era a sua companhia enquanto deambulava pela capital egípcia. E a fotografia era um dos seus passatempos preferidos.

Apesar da idade avançada, Tarek Hussein Farid conservava vestígios do jogador de hóquei de porte atlético da sua juventude. Passava horas a jogar ténis com os filhos do dono do hotel onde vivia. Para as crianças era o tio Tarek, o austríaco que aos 49 anos, em 1963, decidiu mudar-se para o Egipto.

A mudança do nome que recebeu à nascença foi justificada pela conversão ao islão e o trabalho como médico da polícia secreta egípcia fazia parte de um quotidiano insuspeito.

Mas a inocente história da sua vida no Cairo não permitia adivinhar o passado negro que carregava. Nascido em Bad Radkersburg, em 1914, Farid era, afinal, Aribert Heim, o médico nazi que durante a II Guerra Mundial assassinou centenas de pessoas nos campos de concentração de Mauthausen, Buchenwald e Sachsenhausen.

É um dos mais perseguidos criminosos nazis de todos os tempos. É ou era? Ainda não existe uma resposta definitiva para esta questão. No ano passado, uma investigação levada a cabo pelo New York Times concluiu que Heim morrera em 1992, mas o óbito nunca foi oficialmente comprovado. Isto porque as autoridades egípcias recusam fornecer provas concretas do falecimento do homem que ficou conhecido como 'Doutor Morte'.

As razões para a atribuição da alcunha não são difíceis de perceber. Heim submetia os prisioneiros judeus a todo o tipo de experiências macabras, que invariavelmente conduziam à morte. Realizava cirurgias sem anestesia para testar a resistência à dor e removia órgãos de jovens saudáveis, deixando-os morrer na mesa de operações. Com a ajuda do farmacêutico Eric Wasicky injectava líquidos como gasolina, fenol ou água envenenada no coração das vítimas e cronometrava o tempo que demoravam a morrer.

Heim, que iniciou os estudos de Medicina em Graz, terminou a licenciatura em Viena em 1940. A sua ligação ao Partido Nacional Socialista começou em 1935, até que cinco anos mais tarde decidiu alistar-se como voluntário nas Waffen-SS. No ano seguinte foi destacado para trabalhar no campo de Mauthausen. A sua estada durou menos de dois meses, mas ao que tudo indica terá assassinado cerca de 300 pessoas.

Durante anos, desde o seu desaparecimento, em 1962, a polícia alemã analisou mais de 240 pistas sobre o seu paradeiro, mas nenhuma delas conduziu a Heim. De acordo com informações avançadas pelo filho do médico, assim que soube que ia ser julgado Heim apressou-se a deixar Baden Baden, a cidade alemã onde tinha um consultório. Espanha, Argentina ou Chile são alguns dos países que foram apontados como possíveis refúgios do homem que muitos recusam chamar médico. Até que, no ano passado, o seu filho, Rudiger Heim, revelou numa emissão de TV que o pai esteve sempre escondido no Cairo. "Atravessou de carro França e Espanha e depois entrou no Egipto, através de Marrocos, com um visto de turista", garantiu.

Disse que estava ao lado do pai quando este morreu em 1992, vítima de cancro no cólon. Mas restam dúvidas sobre a veracidade da história.

Efraim Zuroff, conhecido como "o último caçador de nazis" e director do Centro Simon Wiesenthal, recusa aceitar a teoria do falecimento do Doutor Morte até que as autoridades egípcias apresentem provas concretas. "Não há corpo, não há ADN, não há campa", afirmou Zuroff.

Caso esteja vivo, Aribert Heim terá chegado aos 96 anos. Escapou sem nunca responder por nenhum dos seus crimes.

fonte: DN

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