domingo, 4 de julho de 2010

Delta 88 com licença para matar


Os atentados em Bali, em 2002, que fizeram mais de duas dezenas de mortos, na sua maioria turistas estrangeiros, levaram os Estados Unidos e a Austrália a ajudar Jacarta na criação de uma unidade de elite para lutar contra o terror. Todos os seus elementos são muçulmanos.

Não fossem as testemunhas da operação realizada a 12 de Maio último, em plena luz do dia e no centro de Jacarta, e a unidade Destacamento 88 continuaria a ser considerada como a mais eficiente - ou uma das mais eficientes - do mundo na luta contra o terrorismo. Só que, nesse dia, muitas foram as pessoas que viram os "rambos" indonésios em acção e não gostaram ...

Criada no rescaldo do violento atentado da Jemaa Islamiya - com ligações à Al-Qaeda - que, em 2002, fez mais de duas centenas de mortos em Bali, na sua maior parte turistas estrangeiros, o Destacamento 88 ou Delta 88 é uma unidade de elite constituída por 400 militares e polícias que foram especialmente escolhidos, treinados e armados para lutar contra grupos terroristas na Indonésia. Estados Unidos e Austrália foram os dois países que, inicialmente, os treinaram, armaram e financiaram. França e Reino Unido dariam mais tarde uma ajuda à formação desta unidade, que, revela o jornal espanhol El Mundo, "tem licença para disparar a matar e utiliza-a". Mais: "Não responde perante nada nem ninguém, nem tão-pouco tem de justificar quem elimina e a razão por que o faz", garante ainda o El Mundo.

A Delta 88 - que é treinada em Megamendung, 50 quilómetros a sul de Jacarta, por elementos dos serviços secretos americanos - tem uma outra característica: todos os seus elementos são muçulmanos, o que facilita a sua infiltração nas células terroristas indonésias.

Nos seus sete anos de vida, a Delta 88 foi um elemento incontornável na redução do terrorismo na Indonésia. Mas a sua total independência acabou por levá-la a cometer excessos. A sua política do "atira primeiro e pergunta depois" tem prejudicado na recolha de informação importante para o desmantelamento de grupos extremistas. E, após uma série de incidentes - nomeadamente com independentistas na região da Papua e Maluku -, as críticas ao Destacamento 88 acabaram por vir à luz do dia e agudizaram-se após a operação de 12 de Maio. Mais uma a juntar à lista dos excessos cometidos pela unidade em causa.

Tudo aconteceu com uma rapidez assinalável: um comando sai de uma carrinha branca que, entretanto, barrara a via a um táxi, e manieta os três passageiros deste veículo. Um tentou fugir e foi mortalmente alvejado na cabeça, o outro foi atingido no peito e o terceiro, que foi levado pelo comando, apareceria morto horas mais tarde. Oficialmente seriam presumíveis terroristas, mas, para os transeuntes que presenciaram a cena, tratou-se de três civis que estavam desarmados, dois dos quais foram deixados a morrer no asfalto. E tudo se tornou mais difícil de aceitar quando, posteriormente, o general Bambang Hendarso Danuri, chefe da Polícia Nacional, assumiria que só um dos homens - o atingido no peito - fora identificado: tratar-se-ia de Maulana, que era acusado de envolvimento num campo de treino da Jihad na província de Aceh e numa tentativa de atentado contra o vice-presidente do Parlamento indonésio.

As organizações de defesa dos direitos humanos reagiram de imediato ao ocorrido, que classificaram como mais uma "execução extrajudicial" da referida unidade e exigem que seja investigada e julgada. "A polícia nem sequer sabia os seus nomes. Estes tipos atiram a matar. Porque não os imobilizaram, dando-lhes um tiro numa perna ou num ombro?", insurgiu--se o advogado Munarman ao ter conhecimento de que duas das vítimas foram sepultadas num cemitério que o Governo destinou a sem-abrigo ou a desconhecidos.

fonte: DN

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