Delta 88 com licença para matar
Os atentados em Bali, em 2002, que fizeram mais de duas dezenas de mortos, na sua maioria turistas estrangeiros, levaram os Estados Unidos e a Austrália a ajudar Jacarta na criação de uma unidade de elite para lutar contra o terror. Todos os seus elementos são muçulmanos.
Não fossem as testemunhas da operação realizada a 12 de Maio último, em plena luz do dia e no centro de Jacarta, e a unidade Destacamento 88 continuaria a ser considerada como a mais eficiente - ou uma das mais eficientes - do mundo na luta contra o terrorismo. Só que, nesse dia, muitas foram as pessoas que viram os "rambos" indonésios em acção e não gostaram ...
Criada no rescaldo do violento atentado da Jemaa Islamiya - com ligações à Al-Qaeda - que, em 2002, fez mais de duas centenas de mortos em Bali, na sua maior parte turistas estrangeiros, o Destacamento 88 ou Delta 88 é uma unidade de elite constituída por 400 militares e polícias que foram especialmente escolhidos, treinados e armados para lutar contra grupos terroristas na Indonésia. Estados Unidos e Austrália foram os dois países que, inicialmente, os treinaram, armaram e financiaram. França e Reino Unido dariam mais tarde uma ajuda à formação desta unidade, que, revela o jornal espanhol El Mundo, "tem licença para disparar a matar e utiliza-a". Mais: "Não responde perante nada nem ninguém, nem tão-pouco tem de justificar quem elimina e a razão por que o faz", garante ainda o El Mundo.
A Delta 88 - que é treinada em Megamendung, 50 quilómetros a sul de Jacarta, por elementos dos serviços secretos americanos - tem uma outra característica: todos os seus elementos são muçulmanos, o que facilita a sua infiltração nas células terroristas indonésias.
Nos seus sete anos de vida, a Delta 88 foi um elemento incontornável na redução do terrorismo na Indonésia. Mas a sua total independência acabou por levá-la a cometer excessos. A sua política do "atira primeiro e pergunta depois" tem prejudicado na recolha de informação importante para o desmantelamento de grupos extremistas. E, após uma série de incidentes - nomeadamente com independentistas na região da Papua e Maluku -, as críticas ao Destacamento 88 acabaram por vir à luz do dia e agudizaram-se após a operação de 12 de Maio. Mais uma a juntar à lista dos excessos cometidos pela unidade em causa.
Tudo aconteceu com uma rapidez assinalável: um comando sai de uma carrinha branca que, entretanto, barrara a via a um táxi, e manieta os três passageiros deste veículo. Um tentou fugir e foi mortalmente alvejado na cabeça, o outro foi atingido no peito e o terceiro, que foi levado pelo comando, apareceria morto horas mais tarde. Oficialmente seriam presumíveis terroristas, mas, para os transeuntes que presenciaram a cena, tratou-se de três civis que estavam desarmados, dois dos quais foram deixados a morrer no asfalto. E tudo se tornou mais difícil de aceitar quando, posteriormente, o general Bambang Hendarso Danuri, chefe da Polícia Nacional, assumiria que só um dos homens - o atingido no peito - fora identificado: tratar-se-ia de Maulana, que era acusado de envolvimento num campo de treino da Jihad na província de Aceh e numa tentativa de atentado contra o vice-presidente do Parlamento indonésio.
As organizações de defesa dos direitos humanos reagiram de imediato ao ocorrido, que classificaram como mais uma "execução extrajudicial" da referida unidade e exigem que seja investigada e julgada. "A polícia nem sequer sabia os seus nomes. Estes tipos atiram a matar. Porque não os imobilizaram, dando-lhes um tiro numa perna ou num ombro?", insurgiu--se o advogado Munarman ao ter conhecimento de que duas das vítimas foram sepultadas num cemitério que o Governo destinou a sem-abrigo ou a desconhecidos.
fonte: DN
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