A loira de 24 anos conseguiu pôr fim a uma tradição com mais de 900 anos e, depois de um curso de um ano, vai ser a primeira mulher a navegar uma gôndola nos canais de Veneza
Dante Boscolo não tinha esperanças de continuar a tradição. Tinha quatro filhas e nenhum filho e por isso, quando se reformasse, a sua licença de gondoleiro teria de passar para outra família. Não contou com a tenacidade de Giorgia. A filha de 24 anos que pôs fim a mais de 900 anos de domínio masculino dos canais de Veneza, ao passar no exame prático e tornar-se na primeira gondoleira desta cidade italiana.
"Nasci no meio dos gondoleiros. Era o único trabalho que alguma vez quis ter", contou Giorgia no dia em que passou no teste. "Sempre gostei de gôndolas e, ao contrário das minhas três irmãs, preferia estar com o meu pai que sair com os meus amigos", indicou ao Daily Mail. Era nessa altura que dava os primeiros passos na profissão. "O meu pai só me deixava remar quando estava mau tempo", disse, a rir. Dante não deu parte fraca: "Foi assim que aprendeste."
E a tarefa não é fácil. O gondoleiro tem de conseguir, com um remo de faia de quase quatro metros, efectuar oito manobras distintas e navegar pelos estreitos canais as gôndolas pretas de 700 quilos. As embarcações medem 10,87 metros de comprimento e 1,42 de largura e são construídas por 280 componentes diferentes de oito tipos de madeira - carvalho, abeto, cerejeira, nogueira, ulmeiro, mogno, limeira e larício. Um dos lados é 24 centímetros maior que o outro, o que torna possível manobrar a gôndola com o remo apenas num lado.
A entrada de Giorgia na associação de gondoleiros não se fez sem críticas, com vários dos seus colegas a dizerem que não era uma profissão para uma mulher. Face aos comentários, a mãe de dois filhos foi peremptória: "O parto é muito mais difícil." Depois de um curso de um ano, teve de fazer um exame prático (em que duas colegas chumbaram), além de testes sobre a história e a arquitectura de Veneza e de línguas estrangeiras, para melhor se relacionar com os turistas.
A primeira referência à existência de gôndolas data de 1094, mas há quem acredite que já existiam desde 697. Ninguém sabe dizer qual a origem do nome, mas este rapidamente se tornou no meio de transporte perfeito nos 177 canais da famosa cidade italiana. Durante os séculos XVII e XVIII, estima-se que existissem até dez mil gôndolas em Veneza. Hoje, há 605 gondoleiros, dos quais 425 titulares e 180 substitutos. Giorgia é agora substituta, podendo trabalhar quando um dos colegas adoecer, tirar uma folga (não é normal, já que nenhum quer abdicar dos mais de 80 euros que ganha por meia hora a transportar turistas) ou for suspenso.
"Estou tão feliz por ser a primeira mulher gondoleira. Sinto que estou na terra dos sonhos e estou encantada por ter cumprido uma ambição que sempre tive quando criança", disse Giorgia. O presidente da associação de gondoleiros também está satisfeito: "Sempre fui favorável a uma mudança nesta profissão totalmente masculina", indicou Nicola Falconi em comunicado. "Este é um sinal e um convite a que outras o tentem", acrescentou. De facto, cinco mulheres estão inscritas para o próximo curso.
O sucesso de Giorgia - que figurou ao lado do pai como Miss e Mr. Abril 2010 no calendários dos gondoleiros mais sexy - ofuscou o de Alexandra Hay. A alemã de 43 anos foi a primeira mulher a navegar nos canais de Veneza com uma gôndola. Contudo, não pode ser chamada de gondoleira porque não tem a licença oficial, tendo sempre chumbado nos exames práticos. Em vez disso, trabalha de forma privada para os hóspedes de três hotéis.
fonte: DN
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