Teerão garante que ainda não decidiu sobre Ashtiani
Lisboa juntou-se às pressões internacionais para salvar vida de condenada a lapidação.
Sob intensa pressão internacional, o Irão anunciou que ainda não existe decisão definitiva sobre a execução de Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte pelo crime de adultério. O anúncio ocorreu no mesmo dia em que cem cidades de todo o mundo - incluindo Lisboa - se mobilizavam contra a anunciada lapidação da iraniana.
Segundo explicou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Ramin, Meh-manparast, citado pela AFP, "este veredicto está a ser examinado e quando a justiça chegar a uma conclusão, esta será anunciada". Mehmanparast apelou a que não se usem casos judiciais com fins políticos.
Ashtiani foi condenada em 2006 à pena de morte por lapidação, por suposto adultério. Recebeu também uma pena de dez anos de prisão pela participação na morte do seu marido, onde participou um amante da condenada. Esta segunda condenação não implica a pena de morte devido ao perdão concedido pela família da vítima.
Esta é a questão jurídica, tal como existe oficialmente. No entanto, houve acusações de tortura da prisioneira, que viu o seu primeiro advogado exilar-se na Noruega por alegada perseguição policial. O caso motivou uma vasta mobilização da opinião pública em diferentes países, incluindo Portugal.
A mobilização política tem sido mais forte na Europa. A França enviou uma carta à chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, pedindo uma posição dos 27 sobre o tema e, ontem, Ashton explicou que as suas preocupações eram idênticas às do ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Bernard Kouchner. A UE deverá divulgar brevemente uma reprovação colectiva da lapidação.
A iminente lapidação de Ashtiani mobilizou ontem múltiplas organizações de direitos humanos e associações humanitárias. Em Paris, por exemplo, participaram 300 pessoas e os organizadores lembraram que mesmo que a lapidação seja suspensa, a iraniana de 43 anos está condenada à morte . Na embaixada iraniana foram entregues mensagens de intelectuais e de outros cidadãos a protestar contra a sentença.
Em Londres decorreu um protesto semelhante, com apelos a uma revisão do processo judicial. O Times contactou os advogados de Ashtiani, que pediram a continuação da pressão ocidental.
O protesto em Lisboa juntou cerca de duas centenas de pessoas no Largo de Camões. No pedestal da estátua ao autor d' Os Lusíadas, activistas dos direitos humanos leram trechos alusivos à situação de Sakineh, incluindo o artigo 5º da Declaração Universal dos Direitos Humanos: "Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante."
"Parem as execuções no Irão", lia-se - em inglês - num dos cartazes de protesto. Os eurodeputados Edite Estrela (PS) e Rui Tavares (BE), parlamentares socialistas como Inês Medeiros e Ana Catarina Mendes, o escritor José Manuel Mendes, a cineasta Raquel Freire, a historiadora Irene Pimentel, o sindicalista António Avelãs e o director-geral da Saúde, Francisco George, estiveram presentes. Os maiores aplausos ocorreram quando uma das activistas afirmou: "A lapidação é uma das formas mais bárbaras de crimes contra a humanidade."
fonte: DN
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