Primeira lapidação de um casal 'adúltero' desde 2001
Homem de 28 anos e mulher de 20 foram apedrejados até à morte num mercado
Pela primeira vez desde que o seu regime foi derrotado, em 2001, os talibãs ousaram apedrejar até à morte, em praça pública, um casal de afegãos. Aconteceu domingo, no mercado da aldeia de Mullah Quli - na província de Kunduz, norte do Afeganistão. Sadiqa, de 20 anos [ou 23], e Qayum, de 28, foram executados na presença da população, convocada para o efeito através de altifalantes a partir da mesquita local.
Este crime dos talibãs faz lembrar as execuções que, quando eram donos e senhores do Afeganistão, faziam à sexta-feira no estádio nacional de Cabul, para onde também era convocada a população. O facto de terem lapidado estes jovens - acusados de adultério - em praça pública revela até que ponto os insurrectos aliados de Ussama ben Laden sentem ganhar terreno no norte do país, poder e capacidade para espalhar de novo o terror ou a população não responderia à convocatória. E coincide também com o alerta lançado pelos grupos de defesa dos direitos humanos contra as tentativas de integrar os talibãs nas negociações de paz para o Afeganistão. Os grupos em causa temem que a integração dos extremistas se faça a expensas dos direitos humanos do povo afegão.
Mohammad Ayub Aqyar, governador do distrito, contou que Sadiqa, que estava comprometida, fugiu com Qayum que, para o efeito, abandonou a mulher. Ficaram escondidos em casa de amigos durante cinco dias até que alguém lhes disse que poderiam regressar porque nada lhes aconteceria; Qayum teria apenas de pagar uma espécie de compensação à mulher. Mas foram descobertos e entregues aos talibãs.
No domingo, os dois jovens foram levados, de mãos atadas atrás das costas, até ao mercado onde foram apedrejados por talibãs mas também por populares que estavam a assistir. Levada meia hora mais cedo para a praça central do mercado, Sadiqa não resistiu ao apedrejamento. O mesmo não aconteceu com Qayum: quando os talibãs abandonaram o local do crime, o jovem ainda dava sinais de vida, daí que alguns talibãs voltaram ao local e atiraram três vezes sobre Qayum, matando-o.
Aqyar condenou o "castigo" que, disse, foi decidido por dois comandantes talibãs locais. Por seu turno, um porta-voz do governo provincial também se insurgiu contra o facto que considerou como sendo "contra todos os direitos humanos e convenções internacionais". E Mabubullah Sayedi sublinhou: "Não houve julgamento. Foi cruel."
A Amnistia Internacional reagiu ao ocorrido alertando para o facto de esta ser a primeira lapidação pública e confirmada dos talibãs desde a sua queda, há nove anos, ao mesmo tempo que considerava que este "crime hediondo" mostra como estes e outros grupos insurrectos "estão a ficar cada vez mais brutais nos seus abusos contra os afegãos".
Prática milenar, a lapidação - morte por apedrejamento - é justificada pela lei islâmica (sharia) para punir o adultério embora vários intelectuais e estudiosos do Alcorão sublinhem que a lapidação foi, num certo momento, dele erradicada pelo próprio Profeta. No caso de Sadiqa, ela foi também condenada por, sendo solteira, ter viajado com um homem que não era da sua família.
No passado dia 9, as autoridades afegãs tinham acusado os talibãs de terem morto uma viúva que se encontrava grávida. A mulher, de 35 anos, foi acusada pelos extremistas de ter mantido relações extra-matrimonais e condenaram-na à morte. Foi também executada em público mas não por lapidação; a tiro.
Entretanto, estes "senhores da guerra" querem participar com as forças internacionais na investigação sobre a morte de civis no país.
fonte: DN
Sem comentários:
Enviar um comentário