PCP acusa governo de negligenciar limpeza das matas
Uma delegação do PCP visitou hoje as áreas afectadas por fogos florestais em Sever do Vouga, em Aveiro, e S. Pedro do Sul, em Viseu, responsabilizando por esse “cenário desolador” o Governo, que negligenciou essas áreas no resto do ano.
“Ao vermos este cenário desolador, há aqui uma profunda tristeza e revolta política, porque percebemos que era possível preservar a floresta e isso não está a ser feito”, declarou à Lusa o deputado Miguel Tiago.
Para o parlamentar, “a estrutura de vigilância da natureza que o Estado possuía tem sido paulatinamente desmantelada e hoje quase não há pessoas no terreno a vigiar a floresta, a tratar da sua limpeza”.
Um caso que o deputado considera significativo é o dos baldios de S. Pedro do Sul, que representam a tipologia de terrenos mais afectada por incêndios na região: “Nestas propriedades comunitárias, o Estado partilha dos rendimentos dos proprietários porque é suposto supervisionar a gestão dos terrenos, mas o que acontece na realidade é que, ao longo de anos, o Governo não gasta lá um tostão, embora cobre sempre a sua parte dos rendimentos”.
“Estamos a falar de uma área gigantesca e claro que as pessoas não têm condições para fazer face a despesas dessa natureza”, acrescenta. “Se o Estado assume a gestão partilhada dos baldios, não faz sentido que não assuma também a sua parte dos encargos com a limpeza das matas”.
Para Miguel Tiago, “se até nas áreas protegidas tem ardido tanta massa florestal, isso diz bem do comportamento que o Estado está a ter nesta matéria”.
O deputado comunista considera que faltam aceiros às áreas florestais, que os caminhos que foram abertos há décadas não têm sido limpos e que “o grande problema” daí resultante é que, “em dias de calamidade, é praticamente impossível entrar nesses locais com uma viatura de combate a incêndios, decisiva para atacar o fogo”.
No caso dos terrenos públicos ou comunitários, “a culpa é do Estado, que não faz a manutenção que devia ao longo do ano”; no caso dos terrenos particulares, o Governo também tem que ser responsabilizado porque “não faz a fiscalização necessária para impor aos privados o cumprimento dos seus deveres”.
Miguel Tiago defende que o Governo tem demonstrado “incapacidade para pôr fim a esta prática” de incúria na manutenção da floresta e declara que a falta de recursos nas regiões interiores agrava a situação. “Se nós abandonarmos a agricultura e dissermos que eles não podem ter mais escolas”, explica, “isso gera degradação e vai conduzir à continuação dos incêndios florestais”.
O deputado observa ainda que a sociedade “não tem verdadeira noção da realidade dos incêndios em Portugal” devido aos actuais critérios envolvidos no cálculo estatístico da área ardida e do número de ignições. “O número de fogos só caiu drasticamente”, explica, “porque, se o terreno que ardeu tinha menos de 2,5 hectares e não foi lá nenhum helicóptero, isso não conta como um incêndio”.
fonte: Público
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