Praia da Estela. "Vi pessoas a fazerem sexo" nas dunas

Populares da Póvoa de Varzim acusam naturistas de práticas sexuais na praia. Já houve casos de agressões contra nudistas

Os naturistas da Praia da Estela já foram alvo da ira popular e vítimas de agressões

Maria Ribeiro brinca com os netos em cima da toalha, à entrada da Praia da Estela, na Póvoa de Varzim. Mesmo a algumas centenas de metros, consegue alcançar com o olhar os corta-vento da polémica, uma zona frequentada por naturistas que está longe de reunir o apoio dos locais. A voz de Maria é a primeira a elevar-se contra os nudistas: "Se querem fazer isso vão para um sítio isolado. Acho que todo o mundo se devia opor e tirá-los daqui para fora!"

Só no ano passado, o nadador-salvador da Praia da Estela, que não se quis identificar, viu "pelo menos três vezes pessoas a fazerem sexo" nas dunas. Ao i, defende que se "arranje um local" específico para os naturistas. Na Praia da Estela, "é impossível" devido à "falta de condições". "Por algum motivo só há seis praias oficiais de naturismo, todas a sul do Tejo", refere.

Junto à entrada da praia funciona um bar onde trabalha um dirigente da Associação Juvenil da Estela. Preferindo manter o anonimato, conta que já viu pessoas "a fazerem o que não deviam perto de crianças". "Isso revolta-nos muito. Eles são cada vez mais e estragam-nos a praia, que não está sinalizada como praia de nudismo", argumenta.

Apesar de não ser oficialmente de nudistas, em 2005 esta praia passou a figurar nos locais recomendados pela Federação Portuguesa de Naturismo (FPN), embora nunca tenha granjeado o apoio popular.

Ramiro Moreira é outro habitante descontente. Defende que o naturismo "não devia ser permitido" neste areal. "Ainda há pouco tempo estava aqui um artista a exibir-se nu nas dunas para as meninas", descreve. E "na internet põem convites para orgias e trocas de casais". São estas práticas que o fazem contestar a situação actual, sublinhando que isso "não é naturismo".

No centro da freguesia encontramos mais protestos. Manuel Artur considera que as práticas naturistas "não deviam acontecer" naquela praia porque as crianças "estão sujeitas a espectáculos que não deviam ver".

Delfim Ferreira Gomes, outro residente, condena não só o exibicionismo gratuito como o próprio facto de as pessoas andarem nuas no areal. "Se fosse eu a mandar, mandava-os prender a todos!" Delfim Gomes admitiria que a Praia da Estela fosse local para nudistas "se fosse privada e tapada".

Na manhã da última quarta-feira, eram poucos os nudistas na Praia da Estela. Nuno P. veio com a namorada. Há três anos que frequenta o areal e diz que o problema "são as pessoas que vêm com segundas intenções, como ter sexo", fazendo "os verdadeiros naturistas pagar as favas". E fundamenta a sua opinião com um episódio recente: "Na sexta-feira, estava um casal a fazer naturismo e um senhor ali deitado a masturbar-se, até que se levanta e dirigiu-se ao casal." Não são estes comportamentos que o trazem à Praia da Estela, assegura. Para si, o naturismo caracteriza-se pelo "respeito entre todos e a Natureza". Se esta zona da praia (perto do campo de futebol) fosse mais vigiada, "nem um terço das coisas se passavam".

A Federação Portuguesa de Naturismo reconhece a "existência de desvios" à filosofia naturista, baseada na vivência "em harmonia com a Natureza caracterizada pela prática da nudez colectiva com o propósito de favorecer a auto-estima, o respeito pelos outros e pelo meio ambiente", sublinhou em comunicado o presidente, Rui Martins.

Casos de violência A polémica com os naturistas da Praia da Estela reacendeu-se há uma semana, quando o vereador socialista da Câmara da Póvoa de Varzim afirmou, em conferência de imprensa, que havia "um conjunto de pessoas que ao abrigo desta capa [nudismo] utilizam este espaço público, não classificado, para práticas sexuais". Renato Matos garantiu ainda que vai levar o tema à reunião de câmara e pretende reunir com a FPN para "delimitar a área da prática de naturismo". José Costa, da assembleia de freguesia, acrescentou que a população poderá mesmo vir a "optar pela violência" caso as pessoas continuem a fazer naturismo.

O naturista Ângelo G. vem à Praia da Estela há sete anos. A polémica gerada a partir das declarações do vereador Renato Matos não é, para si, novidade. Trata-se do "reacender de guerrilhas políticas" que se terão verificado "há três anos". "A gente é que não tem nada a ver com isso", defende-se. Para Ângelo, as "arruaças populares não resolvem nada". Já viu pessoas dirigirem-se aos naturistas "armadas com paus" e espalharem "garrafas no acesso às praia para verem se as pessoas se cortavam".

O responsável de um bar nas imediações, que não se quis identificar, confirma as "agressões" e diz que já "agarraram um nudista pelas pernas e meteram-no na água, quase para o afogar".

fonte: Jornal i