quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Venda de antibióticos desceu mas Portugal ainda é o sexto país com maior uso indevido

Problema está a levar ao aumento da resistência das bactérias aos medicamentos, alertam especialistas.

A venda de antibióticos em Portugal desceu 11 por cento no último ano, mas o país continua a estar na lista dos que fazem um uso mais indevido deste tipo de medicamentos e que têm mais bactérias resistentes, segundo dados do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças. A lista é liderada por países do Sul da Europa e os "melhores alunos" são os países nórdicos. Excesso de prescrição, venda sem receita médica e ingestão de antibióticos através dos alimentos são os principais responsáveis para os especialistas ouvidos pelo PÚBLICO.

O problema é comum à vizinha Espanha. Um estudo realizado na Catalunha publicado esta semana pelo El Mundo diz que 5 a 10 por cento dos inquiridos já compraram antibióticos sem receita e a situação é mais comum nas farmácias pequenas. Das 197 farmácias visitadas, 89 venderam antibióticos não prescritos.

"Não é preciso fazer um estudo para saber que esta situação é muito comum em Portugal", disse ao PÚBLICO o bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes. O responsável admite que os médicos "tendem a defender-se das acusações de negligência" pelo que às vezes prescrevem mais. O bastonário aponta o dedo às políticas que levam a trabalhar para estatísticas. "Não há prescrição a mais, há é medicina a menos", alertou. Pedro Nunes refere também "o desvalorizar da receita como um acto médico".

Uma acusação rejeitada pelo presidente da Associação Nacional de Farmácias. João Cordeiro diz que a situação representará uma parte "ínfima" das vendas. Em resposta escrita, a Autoridade do Medicamento (Infarmed), responsável por fiscalizar o sector, explicou que "não divulga as acções inspectivas realizadas", mas confirma "a aplicação de coimas pela prática da infracção mencionada".

Em Portugal, desde Agosto de 2009 foram vendidos às farmácias 9,8 milhões de embalagens de antibióticos, segundo dados disponibilizados pela consultora IMS Health. No ano anterior foram 11 milhões. Em Novembro, as vendas disparam e é nesta altura que os antibióticos são usados de forma errada para tratar gripes e constipações. Dados do Eurobarómetro deste ano mostram que 78 por cento dos portugueses acreditam que estes medicamentos destinados às bactérias também combatem vírus quando a média europeia fica nos 53.

E o abuso destas substâncias cria bactérias multirresistentes. É o caso da "superbactéria" que tem uma enzima conhecida como NDM-1 que "destrói" os antibióticos e que já vitimou uma pessoa na Europa. A Direcção-Geral de Saúde garantiu que ainda não foram registados casos no país.

Pedro Nunes dá, contudo, outro exemplo que tem contribuído para agravar o problema: os antibióticos utilizados na alimentação animal. Também o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, Mário Jorge Santos, alerta que "o consumo indirecto através dos animais exige mais fiscalização sanitária". O PÚBLICO tentou ouvir a Ordem dos Médicos Veterinários, mas sem sucesso.

fonte: Público

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