Já ardeu mais em Agosto que em 2007 e 2008 juntos
Fogos das primeiras duas semanas do mês consumiram cerca de 58 mil hectares. Até Julho tinham sido menos de 20 mil
Os números são impressionantes: já arderam mais de 58 mil hectares este mês. Nos primeiros 13 dias de Agosto, até sexta-feira, a área ardida ultrapassou mesmo os números dos anos de 2007 e 2008 juntos, quando se tinham perdido 48 694 hectares (ha), segundo os dados do EFFIS, o sistema de monitorização por satélite da União Europeia.
Até ao final de Julho os incêndios tinham consumido 19 347 ha - são estes os últimos dados oficiais disponíveis através da Autoridade Nacional Florestal -, mas as últimas duas semanas fizeram disparar este número. Aliás, é preciso recuar a 2005 para encontrar um ano com um Agosto tão negro, apesar de estarmos ainda a meio do mês: no ano passado arderam cerca de 33 mil ha; em 2008 mais de 3600; no ano antes 8 mil e em 2006 cerca de 49 mil.
Apenas em 2005 os números foram mais preocupantes: com o País afectado por uma forte seca, só em Agosto perderam-se para o fogo 171 620 hectares. Depois disso, desde 2006, quando entrou em vigor o Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios, que o objectivo de reduzir a área ardida a menos de 100 mil hectares por ano tem sido atingido. O número de hectares desceu mesmo durante três anos consecutivos, até 2009, quando a área devastada pelo fogo voltou a subir para 86 mil hectares.
Este Verão e sobretudo este Agosto ficam marcados também por temperaturas máximas cinco graus acima da média, em relação ao valor normal de 1971-2000, que têm mantido o risco de incêndio muito elevado no Norte e Centro do País.
Para os números negros dos fogos na primeira quinzena contribuíram os incêndios dos últimos dias na serra da Estrela e no Gerês, atacando em ambos os casos áreas protegidas. Na serra da Estrela um dos incêndios consumiu 4383 ha em dois dias e o fogo de Vila Franca da Serra outros 3676. Armando Carvalho, coordenador do Parque Natura, disse à Lusa que já terão ardido pelo menos 2500 ha de área protegida, na maioria terrenos abandonados. No Gerês, arderam 4881 ha, segundo o EFFIS.
Ontem, ao final da tarde, o incêndio na Aldeia da Serra (Seia) em pleno Parque Natural ainda era o que mobilizava mais bombeiros: era combatido por 269 operacionais com o apoio de 75 veículos e três meios aéreos. Foi dado como dominado às 17.50, segundo a Protecção Civil.
No outro parque natural, o da Peneda- -Gerês, foram dominadas as chamas em Souteiro, mas o fogo continuava em Mezio, no concelho de Arcos de Valdevez, onde ainda se encontravam 173 bombeiros, com o apoio de dois helicópteros e quatro aviões.
Para o director do Parque Nacional da Peneda-Gerês tem havido coordenação no combate ao fogo, mas o desvio de meios aéreos para outros incêndios complica a situação. "Basta desviar, meia hora ou uma hora, um meio aéreo para complicar substancialmente a situação nestes terrenos, onde é muito difícil chegar sem ser com os meios aéreos", sublinha Lagido Domingues.
Anteontem, o presidente da Câmara de Arcos de Valdevez tinha criticado o Instituto de Conservação da Natureza (ICN), por causa da falta de autonomia e meios dos parques naturais. Em Viseu, a ministra do Ambiente, Dulce Pássaro, recusou responder a estas críticas, mas revelou que no final da época de fogos haverá "uma reavaliação" da actuação do ICN.
Para Duarte Caldeira, presidente da Liga dos Bombeiros, apesar da enorme área ardida e dos "400 incêndios por dia com uma concentração a norte e centro", a situação está ainda muito distante da verificada em 2003 e 2005. "Nesta altura, em 2003 já tínhamos 17 populações evacuadas, cerca de 300 habitações ardidas, muitas indústrias destruídas pelo fogo, nove mortos" e "uma situação de descontrolo completo", lembrou.
fonte: DN
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