Polícia procura imagens de Duarte Lima no Rio
Olímpia Feteira de Menezes, filha do milionário Lúcio Tomé Feteira, acusa Rosalina Ribeiro de ter desviado cerca de 9 milhões de euros, dos quais terá transferido cinco milhões para Duarte Lima (na foto).
Diz não se lembrar da empresa de aluguer nem da marca do carro que levou de Belo Horizonte. Videovigilância de prédios na zona onde o advogado diz ter ido buscar Rosalina, sozinho, passada a pente-fino
Agentes da Divisão de Homicídios (DH) do Rio de Janeiro estão a passar a pente-fino os sistemas de vigilância electrónica de vários edifícios da Praia do Flamengo, zona Sul daquela cidade brasileira, à procura de imagens do ex-deputado português Domingos Duarte Lima.
Ao que o CM apurou, foram recolhidas imagens de vários prédios, numa área até 300 metros do edifício onde morava Rosalina Ribeiro, 74 anos, assassinada na noite de 7 de Dezembro de 2009, supostamente, pouco tempo depois de um encontro com Duarte Lima, o advogado de Lisboa que contratara para defender os seus interesses na herança de Lúcio Tomé Feteira, milionário de quem fora secretária e companheira até morrer, em 2000.
Rosalina saiu do seu prédio em passo apressado, virou à direita e avançou pela calçada, na noite do crime. Até onde as câmaras do edifício puderam alcançar, não entrou em nenhum carro, mas pode tê-lo feito mais à frente, pelo que as imagens de outros prédios foram recolhidas. A polícia procura reconstituir os passos da vítima desde o momento em que foi filmada a sair do prédio, às 19h59, e terá entrado no carro do advogado português. Os investigadores querem confirmar se Rosalina saiu da sua zona de residência com Duarte Lima, em que carro, e se estavam, efectivamente, sozinhos – como o advogado afirma.
No fax que enviou à polícia brasileira, Lima afirmou que foi ao Brasil a pedido de Rosalina, cujos interesses representava em Portugal, e que foi buscá-la a casa num carro, alugado dois dias antes, em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, por onde entrou no Brasil. Mas terá afirmado que não se recordava da marca do carro que usou nem da empresa de aluguer a que recorreu. Ainda segundo o advogado, ele e Rosalina conversaram num café e depois ele deixou-a na cidade de Maricá, a 90 km do Rio, na companhia de uma mulher loira, que só sabe chamar-se Gisele. Ali, Rosalina acabou assassinada a tiro.
Foi no encalço desta misteriosa mulher, que ninguém conhece, que a polícia se infiltrou no funeral de Rosalina e fotografou toda a cerimónia. Várias fotografias da igreja e do cemitério foram anexadas ao primeiro volume da investigação.
DISCURSO DIRECTO
"DINHEIRO ENVIADO PARA ADVOGADOS", Olímpia Feteira de Menezes, Filha do milionário
Correio da Manhã – Em que situação está a herança?
Olímpia F. de Menezes – O inventário não está terminado porque falta apurar o valor que estava nas várias contas bancárias e, principalmente, nas que estavam na Suíça, de onde Rosalina desviou muitos milhões de euros.
– Fala em desvios de dinheiro. Tem provas?
– Temos tudo. Há documentos que provam as transferências bancárias para as contas de dois advogados, nomeadamente de Duarte Lima.
– O outro advogado é Normando António Ventura Marques, que assistia Rosalina no Brasil?
– Sim. As provas apontam para ele, mas assinava os trabalhos processuais onde representava Rosalina, enquanto de Duarte Lima não temos nada assinado em tribunal.
HERDEIRA DE ROSALINA EM BAIRRO POPULAR
Vítor Ribeiro, de 61 anos, reformado, é herdeiro e sobrinho de Rosalina Ribeiro da parte do seu primeiro marido. Vive no primeiro andar de um bairro modesto e popular na zona de Sintra. Está de férias e recusa prestar declarações sobre a disputa que também tem na Justiça por causa da herança da tia com um outro herdeiro, Armando Carvalho, 55 anos. Este herdeiro alega que foi retirado do testamento pouco tempo antes de Rosalina partir para o Brasil e ser assassinada. No bairro, os vizinhos ficaram espantados por Vítor, que é tido como homem "sério e trabalhador" ser, afinal, herdeiro de uma fortuna tão famosa.
DESVIOS PARA CONTA DE EMPREGADO
Rosalina Ribeiro terá contado a Duarte Lima, segundo o ‘Expresso’, que tinha descoberto que 50% da concessão de uma empresa de extracção de areia não estava a ser depositada na conta do espólio de Tomé Feteira. O dinheiro estaria a ser desviado para as contas de um empregado da fazenda, que dizia ser um homem de confiança de Olímpia Feteira, a rival em tribunal. A filha do milionário nega a acusação e, ao CM, diz que tinha uma "boa relação com o pai" e que os atritos eram os normais entre pais e filhos. "A carta [de Feteira para a filha, zangado] é uma banalidade por causa de problemas de condomínio".
INÊS PEDROSA TAMBÉM É HERDEIRA
Os herdeiros do milionário Tomé Feteira, que aguardam que o inventário termine para receberem uma parte da herança, são vários e não se resumem à filha, Olímpia de Menezes, nem aos seus primos do lado do pai. Do lado de Adelaide, a mulher de Lúcio Tomé Feteira, que faleceu em Outubro de 2003, há cerca de 13 herdeiros. Um deles é a conhecida escritora Inês Pedrosa. "Sou sobrinha de Lúcio Feteira pelo lado da sua esposa, a Adelaide, que era irmã da minha bisavó", explicou ao ‘CM’, acrescentando que nunca conheceu Rosalina (a secretária que viveu uma relação extraconjugal com o seu tio) e que só esteve com Olímpia nas reuniões, quando os herdeiros foram chamados por causa da herança, em 2004.
HERANÇA COMPRADA A FETEIRA
Rosalina Ribeiro deixou dois testamentos onde são herdeiros conhecidos um sobrinho, Vítor Ribeiro, e um afilhado, Armando Carvalho. Nesse testamento, onde Armando Carvalho alega ter direito a mais do que lhe foi dado e à casa do Brasil, Rosalina deixa dois apartamentos em Vieira de Leiria, três em Lisboa e uma quinta, a Brisamar, em Lagos, no Algarve. Segundo os registos prediais a que o CM teve acesso, continuam em nome da secretária do milionário Lúcio Tomé Feteira as casas em Vieira de Leiria e a vivenda no Algarve. Um dos apartamentos de Lisboa já está na posse de Vítor Ribeiro, que, em Abril deste ano, o registou em seu nome como legado e, em Julho, fez uma doação a um dos seus filhos. Ao que o CM apurou, Vítor Ribeiro já trocou a fechadura do apartamento em questão. Além disso, segundo os mesmos registos, todos esses bens foram adquiridos por Rosalina a Lúcio Tomé Feteira e à sua mulher, Adelaide, entre 1984 e 1996. No caso da quinta do Algarve, a aquisição custou, na altura, em 1984, 600 contos. Agora vale cerca de três milhões de euros. Ao que o CM apurou, Rosalina não terá pago pelos bens. Foi Tomé Feteira quem pagou, dando apenas a Adelaide a parte que lhe competia como mulher.
fonte: Correio da Manhã
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