sábado, 14 de agosto de 2010

Sobrevivente do Holocausto dança "I Will Survive" em Auschwitz


Adam "Adolek" Kohn não esperou nunca viver tantos anos. Também não esperou aos 89 anos viajar até ao antigo campo de extermínio de Auschwitz e dançar ao som do hino disco "I Will Survive" com os seus netos.

As imagens mostram Adolek com os seus quatro netos, tentando acertar os passos na coreografia ensaiada, hesitando – há uma altura em que se nota que ele ameaça desistir – mas acabando por dançar, finalmente, com entusiasmo. Tem uma t-shirt branca dizendo "survivor". As imagens vão-se sucedendo: no relvado de Auschwitz, em frente ao portão com o tristemente famoso dizer "Arbeit Macht Frei" ("o trabalho liberta"), nas carruagens, no campo de Dachau... Avô e netos, numa imagem ele faz o sinal "v" de vitória com os dedos.

O vídeo, feito pela filha de Kohn Jane Korman, uma artista australiana, provocou reacções violentas, conta a revista alemã "Der Spiegel". Esteve poucos dias no YouTube, e antes de ser retirado por causa dos direitos de autor da música de Gloria Gaynor, foi visto meio milhão de vezes.

A ideia desagradou a muitos. O director nacional da Liga Anti-Difamação (organismo nos EUA que supervisiona o antisemitismo e negação do Holocausto), Abraham Foxman, disse perceber "a necessidade de celebrar a sobrevivência", mas notou que esta estava infelizmente limitada "aos que sobreviveram", segundo a revista alemã. Houve quem tivesse ao início sentimentos contraditórios em relação à ideia e acabasse por mudar de opinião: a escritora e blogger Suzanne Reisman começa por explicar que ao ler sobre o vídeo discordou do uso de uma música como "I Will Survive". "Mas depois vi o vídeo. Não consegui parar de chorar. Ver este homem voltar a um sítio que lhe tirou tanta coisa e dançar com a sua família é incrível", conta no BlogHer. E finalmente muitos enviaram cartas a Jane Kormak agradecendo que ela tenha conseguido "uma declaração de amor à vida mesmo depois da morte" e que tenha quebrado um tabu.

No final do vídeo, "Adolek" Kohn explica: "Se alguém me dissesse aqui, nessa altura, que eu iria voltar sessenta e tal anos mais tarde com os meus netos, eu responderia: 'O que estás a dizer? O que estás a dizer?'. Isto é realmente um momento histórico."

Nascido na Polónia, Kohn e a sua família foram enviados para o gueto e depois deportados para Auschwitz, onde chegaram depois de uma viagem de três dias de comboio. Adolek tinha 21 anos, era saudável e conseguiu trabalhar. A sua mãe não sobreviveu. Depois de ser libertado conheceu a mulher, Marysia, com quem casou apenas com uma aliança – não havia mais. Os dois acabaram na Austrália sem nada. Kohn começou a trabalhar numa fábrica têxtil e acabou por conseguir montar uma pequena empresa, que vendeu antes de se reformar.

O avô Kohn está especialmente orgulhoso da sua filha Jane e da ideia que levou ao vídeo. Considera mesmo que dançar com os netos no sítio onde a mãe morreu foi o maior triunfo da sua vida, diz. "Desde então, já não sou uma vítima. Sobrevivi. Ganhei."

Veja o video:



fonte: Público

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