domingo, 12 de setembro de 2010

"Ele só queria alguém a quem pudesse dar carinho"

As 256 páginas desta obra descrevem os momentos de terror vividos pela jovem austríaca durante os oito anos em que viveu afastada do mundo. Era obrigada a rapar o cabelo, agredida, tratada como escrava e vivia isolada num espaço exíguo trancado por uma porta de betão. Durante o tempo em que esteve aprisionada, tentou suicidar-se mais do que uma vez. Em 2006, oito anos depois de ter sido raptada, conseguiu escapar histórias: natascha kampusch relata cativeiro em livro

Um dia ouvi o meu nome na rádio. O autor de um livro sobre pessoas desaparecidas dizia que não havia pistas, nem corpo. Queria gritar: estou aqui! Estou viva!" Nesse dia, Natascha Kampusch, na altura com 15 anos, tentou suicidar-se. Não conseguia pensar em mais nenhuma maneira de escapar ao seu raptor, Wolfgang Priklopil, que cinco anos antes a tinha atirado para dentro de uma carrinha branca, naquele que foi o primeiro dia de oito anos de cativeiro. Pôs uma pilha de papéis ao lume na pequena cave onde estava presa, esperando que o fumo lhe tirasse a vida. Quando começou a tossir, foi "invadida por um instinto de sobrevivência" e apagou o fogo com roupa molhada.

O episódio é contado pela própria Natascha num livro autobiográfico lançado, na passada semana, na Áustria. Em 3096 Tage (3096 Dias), Natascha Kampusch dá a conhecer os pormenores de um período da sua vida em que diz ter sido agredida duzentas vezes por semana.

Em 256 páginas, redigidas com a ajuda de dois escritores, "a rapariga da cave "- como ficou conhecida -, conta que era tratada como uma "escrava". De acordo com Natascha, que agora tem 22 anos, Priklopil repetia frases intimidatórias vezes sem conta: "Eu sou a tua família. Sou tudo o que tens. Já não tens passado. Eu criei-te."

A jovem, loira, de olhos azul- -claros, descreve o momento em que descobriu que estava confinada a um espaço selado por uma porta de cimento. Tinham passado seis meses desde que fora raptada e pediu para tomar banho.

"Ordenou-me que o seguisse. Foi aí que descobri, ao cimo das escadas, um monstro feito de betão armado. Estava enclausurada. Hermeticamente fechada."

Durante todo o tempo em que esteve presa, o raptor - que acabou por se suicidar após a sua fu-ga - dizia-lhe repetidamente que a família não queria saber dela. "Os teus pais não gostam de ti. Não te querem de volta. Estão felizes por se verem livres de ti", dizia-lhe. Durante os primeiros anos de cativeiro foi obrigada a rapar o cabelo, porque Priklopil tinha medo de que os seus fios loiros pudessem, de alguma maneira, deixar rasto e servir como prova.

Natascha conta como foi várias vezes obrigada a deitar-se ao lado de Priklopil, algemada. Mas a jovem austríaca nunca refere abusos sexuais: "Ele só queria alguém a quem pudesse dar carinho."

Em 1998, desapareceu sem deixar rasto. Oito anos depois conseguiu fugir quando lavava o carro do raptor no jardim, que se distraiu para atender uma chamada telefónica dentro de casa. Correu durante cinco minutos, pedindo socorro, até conseguir tocar à campainha de uma vizinha e dizer: "Sou a Natascha Kampusch."

fonte: DN

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