sábado, 11 de setembro de 2010

Primeiras vítimas no caso da queima do Alcorão


Manifestante morre no Afeganistão e pastor Terry Jones anuncia desistência, mas faz ultimato sobre mesquita em Nova Iorque.

A controvérsia política e religiosa lançada pelo pastor evangélico americano Terry Jones fez ontem a sua primeira vítima mortal confirmada. Segundo o New York Times, um homem foi morto em frente de uma base da NATO, em Bala Buluk, Afeganistão, durante uma manifestação contra a intenção de Jones de queimar a 11 de Setembro exemplares do Alcorão em frente à sua igreja de Gainesville, Flórida.

A notícia das intenções do pastor tem corrido por todos os países muçulmanos e criou uma onda de indignação. Ontem, Jones anunciou que não vai concretizar a queima do Alcorão, mas isso não reduziu a fúria dos manifestantes. Houve manifestações no Paquistão, Afeganistão e Indonésia, com incidentes graves em duas localidades afegãs. O anúncio da desistência não parece definitivo e o fim do Ramadão pode piorar os protestos.

O homem que morreu em Bala Buluk chamava-se Mohammad Daoud e tinha 24 anos. Três outros ficaram feridos. Em Faizalabad, quando centenas de pessoas tentaram invadir uma base da NATO, as tropas dispararam e feriram cinco manifestantes, três deles com gravidade.

O pastor Jones dirige um pequeno grupo de meia centena de fiéis "Dove World Outreach Center" e aceitou abandonar o seu projecto de queimar o Alcorão depois de ser submetido a intensa pressão pública, que abrangeu líderes políticos e militares, dirigentes de todo o mundo, além de comunidades e igrejas.

O chefe do Pentágono, Robert Gates, telefonou anteontem a Jones para o dissuadir de uma acção que poria em risco vidas de soldados americanos. Barack Obama falou na quarta-feira, mas pronunciou-se de novo ontem. Durante uma intervenção sobre economia, o presidente apelou à tolerância religiosa e lembrou que o inimigo é a "Al-Qaida, que matou mais muçulmanos" do que qualquer outra entidade.

As pressões pareciam ter funcionado. O pastor Jones afirmou que desistira da acção após obter garantias do imã Musri, da Flórida, de que o responsável pelo controverso projecto da chamada "mesquita do ground zero", o imã Feisal Abdul Rauf, estava pronto a negociar com Jones. O filho do pastor, Luke Jones, veio afirmar que o seu pai iria apanhar o avião para Nova Iorque, para se encontrar com Rauf. Ontem à noite, quando surgiram dúvidas, Jones deu um prazo de horas para negociar a mesquita de Nova Iorque.

A história da mesquita de Nova Iorque esteve sempre em pano de fundo. Trata-se da intenção de edificar um centro comunitário, chamado Cordoba House a dois quarteirões da zona de impacto do 11 de Setembro. A distância entre o futuro centro comunitário muçulmano e o ground zero é de 200 metros e esta proximidade gerou uma discussão sobre a responsabilidade do terrorismo islâmico no 11 de Setembro e os limites da tolerância religiosa na América.

O milionário da construção Donald Trump já se ofereceu para comprar o edifício que a fundação de Rauf quer renovar, mas a oferta foi rejeitada. À sugestão de que haveria um acordo, o imã Rauf respondeu ontem que não tinha prometido nada ao pastor Jones.

Numa entrevista à ABC, o líder muçulmano disse que estava surpreendido com o anúncio feito por Jones e pelo imã Musri. "Não vamos brincar com a nossa religião ou qualquer outra", acrescentou. Caso a Cordoba House fosse forçada a mudar de local, disse o imã, a opinião pública muçulmana vai pensar que a sua religião "está sob ataque" e isso "dará força aos radicais".

A opinião nos países muçulmanos parece estar a mobilizar-se. As críticas surgiram de todo o lado, do Hamas ao presidente paquistanês, do Irão ao Cairo. O imã de Meca, Saleh Ben Humaid, classificou a ideia de queimar o Alcorão de "incitamento ao terrorismo". E a maior autoridade xiita, ayatollah Ali Sistani, alertou para as "terríveis consequências".

Em Gaza, o primeiro-ministro do Hamas, Ismail Haniyeh, chamou a Jones um "louco furioso", acrescentando que "a melhor resposta a esse impostor são os 40 mil fiéis que aprenderam de cor o livro de Deus". Os críticos da iniciativa do pastor da Flórida incluem os presidentes afegão e iraniano, o primeiro-ministro israelita e vários chefes de governo europeus.

fonte: DN

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