domingo, 5 de setembro de 2010

Funcionários de crematório fazem testes à radioactividade

Cremação de doente tratado com iodo 125 levou autoridades a pedir análises de risco.

Quatro funcionários do crematório do cemitério do Alto de São João, em Lisboa, foram esta semana surpreendidos ao serem "convocados" para fazer exames no Instituto Tecnológico e Nuclear. O objectivo era medir a quantidade de radiação a que tinham estado expostos. Isto depois de técnicos do Instituto terem estado a medir os níveis de radioactividade no próprio crematório. O aparato deveu-se à cremação, dias antes, do corpo de um homem que tinha feito tratamentos com iodo radioactivo e que não podia ser incinerado.

"Nunca nos tinha acontecido. Estiveram cá e depois recebemos ordem para ir fazer exames. Mas não tive medo, que o calor mata todo o bicho", contou um dos funcionários ao DN.

Mas neste caso o calor era um dos perigos: corria-se o risco de as cápsulas de titânio com iodo 125, que estavam no corpo do doente, se partirem e haver dispersão da radioactividade na atmosfera, explica Pedro Rosário, do Núcleo de Protecção Contra Radiações da Direcção-Geral da Saúde (DGS).

O doente tinha feito um tratamento, no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, em Junho, chamado braquiterapia prostática, em que são usadas sementes de iodo que emitem uma radioactividade de baixa energia, explica o IPO (ver caixa).

Acabou por morrer em Agosto, "por causas que nada têm a ver com a doença", explica a subdirectora-geral da Saúde, Graça Freitas. Assim, apesar de o IPO assegurar que dá informação "verbal e escrita" a indicar que a cremação destes doentes "só pode ocorrer passados 36 meses após o implante", o corpo acabou por ser incinerado apenas dois meses após o tratamento. Foi outro doente, "colega de tratamentos", que quando teve conhecimento da situação a relatou a um profissional do IPO, que por sua vez alertou a Direcção-geral da Saúde.

Seguindo o protocolo para situações em que há possibilidade de haver contaminação com radioactividade, foram contactados o Instituto Tecnológico e Nuclear e a Agência Portuguesa do Ambiente para investigar s situação.

"Analisámos as cinzas e, de facto, foi detectada radioactividade, embora dentro de limites que não põem em risco a saúde humana. Por isso foram colocadas numa caixa de chumbo selada, no jazigo. O crematório, pelo contrário, não revelou qualquer tipo de contaminação. Nem as pessoas que foram submetidas a exames: a viúva e os trabalhadores que estavam de turno", indica Graça Freitas.

A responsável salienta que, mesmo que tivesse havido exposição, "estamos a falar de níveis mínimos", mas que o princípio é evitar a exposição a qualquer radiação desnecessária. Há situações - quer em tratamentos, quer no diagnóstico de doenças - em que as pessoas são expostas a radiação considerada útil.

Controlo é difícil

No entanto, o Conselho de Administração do IPO admite que "a partir do momento em que o doente recebe alta", não há "capacidade para assegurar que as recomendações fornecidas foram ou estejam a ser cumpridas".

"Pode haver sempre uma situação que escapa ao nosso controlo. Não podemos identificar e perseguir os doentes. Há que respeitar a sua privacidade e dignidade. Mas fazemos recomendações às famílias e vamos fazer também às funerárias. E apelamos às famílias para, nestas situações, estarem atentas e terem sentido cívico", conclui Graça Freitas.

Trata-se de uma situação muito rara, diz Graça Freitas, que não tem memória de um caso semelhante no País. Nem os funcionários do cemitério do Alto de São João, o mais antigo do País, que falaram com o DN.

fonte: DN

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