terça-feira, 24 de agosto de 2010

Moody''s diz que economia portuguesa vai sofrer

Agência estima que o PIB português cresça 0,5% este ano, abaixo das previsões do governo


Culpas na crise. Aqui Warren Buffett e à direita Raymond McDaniel, presidente da Moody?s

É o dilema da pescadinha de rabo na boca. É preciso mais austeridade, mas a austeridade prejudica a economia e, por arrastamento, estraga o esforço de redução do défice público. E tudo recomeça.

A Moody''s, uma das três maiores agências de notação financeira mundiais, reconhece que Portugal (e países como Espanha e Itália) "anunciaram medidas adicionais significativas [de redução do défice] para 2010 e 2011". Infelizmente, este "aperto fiscal simultâneo vai afectar negativamente as perspectivas de crescimento da zona euro", o que enfraquece a capacidade dos governos de reduzirem o défice.

O mês passado, quando a Moody''s cortou o rating [opinião da empresa sobre a capacidade do governo e da república de pagarem as suas dívidas], o Ministério das Finanças reagiu. "Creio que é uma decisão um pouco mais tardia que a de outras agências de rating, mas que no fundo veio constatar aquilo que essas outras agências já tinham constatado e por isso não tem nada de surpreendente", disse o ministro Teixeira dos Santos.

Agora, perante um diagnóstico que continua a ser negativo, o Ministério das Finanças preferiu não reagir.

O documento que actualiza a avaliação da agência de rating norte-americana relativamente à qualidade das dívidas soberanas e das economias europeias refere que "a força financeira do governo português continuará a enfraquecer a médio prazo", e que "as perspectivas de crescimento económico deverão permanecer relativamente fracas a não ser que as recentes reformas estruturais dêem frutos a médio e longo prazo". Por isso estes factores "deverão conduzir a níveis de dívida pública substancialmente altos nos próximos anos". Para a Moody''s, são razões suficientes para que o oulook do rating português esteja estável, mas no nível "A" (em vez de "Aa", onde esteve durante 12 anos). Neste grau "A" estão países como Israel, a Polónia, Malta ou a Estónia.

A agência considera que em 2011 vai faltar austeridade no combate: o défice deve cair de 7,5% para 6,8% do PIB entre este ano e o próximo. Já o governo diz que consegue 7,3% e 4,6%, respectivamente. Na dívida, as expectativas também são menos ambiciosas: a Moody''s diz que o peso será de 84,8% do PIB em 2010, disparando para 89,2% em 2011. O governo aponta 83,5% e 85,9%, respectivamente.

Segundo a empresa, o crescimento será de 0,5% este ano e 0,7% em 2011; o governo diz que é ao contrário. Em todo o caso, os economistas referem que se trata de uma expansão muito baixa, próxima da estagnação.

Durante décadas os portugueses (particulares e empresas) gastaram acima das suas capacidades (produtivas), preenchendo esse vazio com crédito bancário. A fonte do financiamento secou com esta crise e as despesas que permitiram manter o nível de vida mais elevado terão de ser reequacionadas. O sector público, com o peso que tem na economia, dará o exemplo e forçará uma redução de gastos que arrastará o sector privado. O aumento de impostos e o corte nos apoios sociais são alguns exemplos.

Segundo o Banco de Portugal (BdP), "a antecipação de medidas previstas no PEC e a eliminação de medidas de estímulo orçamental, o congelamento das admissões de pessoal, a diminuição da despesa em bens e serviços da administração central e a redução das transferências para as administrações regional e local e para o sector empresarial do Estado" são factores que "tenderão a afectar negativamente o crescimento da economia portuguesa a curto prazo".

O quadro é, de facto, inquietante, mostra o banco central: o país pode estar à beira de uma nova recessão (a probabilidade é superior a 50%, diz a instituição) e o emprego deve continuar a afundar em 2011, pelo terceiro ano consecutivo.

As medidas de austeridade do governo sobre as contas públicas vão começar a ferir a sério a economia; a escassez de crédito, a perda de força da procura externa e o fardo do endividamento acumulado ao longo de décadas explicam o resto das dificuldades que os portugueses terão de sentir pelo menos até 2013, fim do período de grande austeridade que Lisboa prometeu a Bruxelas para reduzir o défice para menos de 3%.

O BdP observa ainda que a "eventual necessidade de medidas adicionais de consolidação em diversos países que são importantes mercados de destino das exportações nacionais" também justifica o pessimismo face à procura externa dirigida a Portugal.

fonte: Jornal i

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