sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Dívida custa 14 mil € a cada cidadão


José Sócrates e Teixeira dos Santos têm razões para estar apreensivos com dívida pública.

A crise da dívida pública portuguesa está a sair cara aos portugueses: em 2010, por causa do recurso ao financiamento nos mercados externos, a dívida do Estado vai custar a cada português, segundo os dados ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), cerca de 14 mil euros por ano, um aumento significativo em relação aos cerca de 13 mil euros no ano passado. Só em juros, Portugal pagará, este ano, por força da subida das taxas de juro, mais 645 milhões de euros. E o risco do País disparou: ontem, o juro das Obrigações do Tesouro (OT) a 10 anos atingiu 6,64%, o valor mais alto desde a adesão ao euro, e o spread pago aos credores aumentou sete vezes no último ano. 

Os dados do INE indicam que, no final de 2010, a dívida bruta do Estado irá ascender a 142,2 mil milhões de euros, contra 127,9 mil milhões de euros no ano passado. Por este montante, o País pagará quase 5,45 mil milhões de euros em juros, um crescimento de 13,4% em relação aos 4,8 mil milhões de euros registados em 2009.

Como o risco da dívida pública portuguesa tem vindo a agravar-se desde o início do ano, tudo indica que, devido à subida das taxas de juro, os encargos com os juros serão, no próximo ano, ainda mais elevados. Para já, ontem, a taxa de juro das OT a 10 anos ultrapassou a fasquia dos 6,5%, um claro indicador de como os investidores encaram o risco de Portugal não pagar as suas dívidas.

Ao que o CM apurou, o Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público (IGCP), no âmbito da sua estratégia de acção, tem enviado para os mercados financeiros sinais de confiança sobre a situação do País. O próprio Governo atribui o aumento do risco da República à "irracionalidade que caracteriza actualmente os mercados financeiros", segundo disse ontem o secretário de Estado do Tesouro e das Finanças. Carlos Costa Pina foi categórico: "Quer se goste, quer não se goste de ouvir falar disso, é uma evidência." E precisou: "Enquanto não se conseguir resolver a questão no plano internacional, Portugal não terá o problema resolvido."

Certo é que, por comparação com a dívida pública da Alemanha, considerada a mais segura da Europa pelos mercados financeiros, ontem, os credores, para emprestarem dinheiro ao Estado português, pediam um spread de 4,27 por cento. Há um ano, os investidores compravam dívida pública portuguesa com uma margem de lucro de apenas 0,58 por cento.

MERKEL RECUSA DAR APOIOS A PAÍSES DA UE PARA ALÉM DE 2013

A chanceler alemã declarou ontem que a Alemanha rejeitará alargar para além de 2013 o fundo de resgate da União Europeia destinado aos países mais endividados.

"A Alemanha não consentirá alargar os fundos, tal como eles estão agora", disse Angela Merkel num discurso a uma federação de trabalhadores em Berlim. Em Maio, a braços com uma espiral de défice na Grécia, foi criado um pacote de 440 mil milhões de euros para apoiar os países em dificuldades.

MAIS NOVE MIL MILHÕES À VISTA

As emissões de dívida pública vão prosseguir até ao final de 2010: o IGCP deverá emitir ainda um total de cerca de nove mil milhões de euros em Obrigações do Tesouro (OT) e Bilhetes do Tesouro (BT). Esse financiamento, do qual a maior fatia será de BT, será destinado à Administração Central.

A manter-se a taxa de juro dos últimos dias, o gasto com os juros deste crédito poderá representar um aumento de quase 332 milhões de euros relativamente a Setembro de 2009.

CAVACO TEME SAÍDA DO GOVERNO

O Presidente da República, Cavaco Silva, está preocupado com a demissão do Governo na sequência da eventual inviabilização do Orçamento do Estado (OE) para 2011.

Esta ideia ficou patente nas rondas que o Chefe de Estado manteve ontem com três dos seis partidos políticos com assento parlamentar: PEV, PCP e BE. As audiências em Belém prosseguem hoje com o CDS-PP, PSD e PS.

À saída do encontro de ontem, Francisco Louçã, do BE – partido que poderá salvar o OE caso o PSD mantenha firme a ideia de não negociar mais com o Governo –, garantiu que tudo fará para evitar uma crise política. E prometeu apresentar soluções concretas no Parlamento.

Do lado do PCP, Jerónimo de Sousa garantiu que o partido não está interessado numa crise política, mas acusou o Governo de estar a fazer "uma ameaça e uma chantagem" em torno da viabilização do OE. Jerónimo de Sousa apontou ainda o dedo a "um erro de partida" do Executivo de José Sócrates, ao ter procurado negociar com um único partido, o PSD.

fonte: vox

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