sábado, 23 de outubro de 2010

Pelé, o "rei" que interrompeu uma guerra civil em África


Pelé, com 21 anos, dias antes do Brasil-Inglaterra do Mundial de 1962

Brasil comemora o 70.º aniversário de Edson Arantes do Nascimento, imortalizado como Pelé, ainda hoje um ícone mundial

Pepe, o "canhão da vila", marcou 405 golos pelo Santos, mas nem assim é o primeiro da lista. "Costumo brincar que sou o maior artilheiro do Santos. Não vale comparar com o Pelé, porque ele não é humano". Pelo menos, é o único "internacional" brasileiro e nigeriano da história. Neste planeta, Pelé, que até nasceu numa vila chamada Três Corações, cumpre hoje 70 anos, depois de ter conseguido dobrar as leis da física para eliminar dois dias do calendário - 21 de Outubro de 1940 é a data da certidão de nascimento (culpa do pai), mas ele terá de facto nascido um par de dias depois. 

Muita coisa em Edson Arantes do Nascimento foi culpa do pai, Dondinho, um avançado ágil que jogava bem com os dois pés e com a cabeça, e que, pela descrição, alguma coisa terá passado ao filho que este fim-de-semana será homenageado pelo Campeonato Brasileiro: a 31.ª ronda chama-se Jornada Pelé 70 Anos e Neymar, estrela do Santos, o clube em que o "Rei" passou grande parte da carreira, vai actuar com o n.º 70.

Ícone global, considerado por muitos o melhor futebolista de todos os tempos (descontando, pelo menos, toda a população da Argentina), o homem que lançou a lenda do n.º 10 apresenta como cartão-de-visita os 1284 golos (na soma entram os jogos particulares), 1091 deles pelo Santos, e os três Mundiais conquistados - ninguém marcou ou ganhou tanto.

Mas, afinal, quão bom era o brasileiro? Tão bom que foi eleito atleta do século pelo conjunto dos Comités Olímpicos Nacionais, apesar de ser o único do top 5 (Muhammad Ali, Carl Lewis, Michael Jordan e Mark Spitz) que não participou nos Jogos Olímpicos. Tão bom que num amigável entre o Santos e a selecção pré-olímpica colombiana, em Bogotá, foi expulso, mas a polícia, temendo a revolta popular e uma tragédia, substituiu o árbitro e Pelé voltou ao jogo. Tão bom que interrompeu temporariamente a guerra civil na actual República Democrática do Congo, quando disputou duas partidas de exibição no país.

Tão bom que, mesmo aqueles que só o viram jogar por partes no YouTube ou em documentários, acreditam que ele seria mesmo capaz de fazer o que disse aos colegas prisioneiros de guerra e desenhou a giz no quadro da táctica de cada vez que há uma reposição do filme Fuga para a vitória: "O Hatch [guarda-redes] passa-me a bola, eu faço isto, isto, isto, isto, isto, isto, isto... golo! Fácil". Sim, teve qualidade para haver um Estádio Pelé em Teerão ou para que duas das suas jogadas no México 70 tenham ficado para a História, apesar de terem falhado o objectivo final: o remate antes do meio-campo à Checoslováquia e a finta sem tocar na bola ao guarda-redes uruguaio foram "os golos que Pelé não marcou".

Doze anos antes, tinha-se apresentado ao mundo com seis golos em quatro jogos para liderar o Brasil ao primeiro título mundial do país. Tinha 17 anos. À custa da sua fama, o Santos deu a volta ao mundo em digressões. Pelé jogou até 1977, mas nunca deixou de lucrar com o que conseguiu nos relvados. Segundo o jornalitaliano Corriere dello Sport, factura anualmente 18 milhões de dólares (20,3 milhões de euros) em publicidade, superando estrelas como Messi ou Ibrahimovic, o que dá razão ao que Andy Warhol disse um dia: "Em vez de 15 minutos, Pelé terá quinze séculos de fama".

A celebridade de Pelé levou-o até a fazer um jogo pelo Fluminense e outro pela selecção da Nigéria numa viagem em que fez publicidade a electrodomésticos brasileiros. O maior goleador da história da selecção brasileira só tem uma regra: não vende a imagem a marcas de bebidas alcoólicas.

Pelé não parece mesmo um simples mortal. Como comprovou em primeira mão Tarcisio Burgnich, defesa da Itália na final do Mundial de 1970. "Disse a mim mesmo, antes do jogo: "Ele é feito de carne e osso, como toda a gente". Estava enganado".

fonte: Público

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