terça-feira, 5 de outubro de 2010

Nobel para 'pai' de 4 milhões de bebés


"É justo e merecido. É uma descoberta que veio modificar o futuro de muitas gerações e, até, da humanidade." A reacção de João Silva Carvalho, presidente do colégio de ginecologia e obstetrícia da Ordem dos Médicos poderia ser subscrita pelos quatro milhões de pessoas que nasceram depois da descoberta da fertilização in vitro por Robert Edwards e Patrick Steptoe. Edwards, de 85 anos, foi ontem galardoado com o prémio Nobel da Medicina por uma descoberta resultante de mais de 20 anos de investigação e que, só em Portugal, ajuda mil casais por ano a ultrapassar as dificuldades em conceber um filho naturalmente.

Trinta e dois anos depois do nascimento do primeiro bebé- -proveta no Reino Unido, Louise Brown, o Comité Nobel do Instituto Karolinska, reunido em Estocolmo, decidiu atribuir o prémio ao investigador. Justificou-o por "ter desenvolvido um tratamento que permitiu tratar a esterilidade, que afecta uma vasta proporção da humanidade e mais de 10% dos casais em todo o mundo".

Apesar da saúde frágil, o professor reagiu com satisfação a esta recompensa. A mesma que Louise Brown e a mãe, Lesley, vieram ontem demonstrar a público através de uma carta escrita em conjunto: "A minha mãe e eu estamos muito contentes por um dos pioneiros da fertilização in vitro ter visto o seu mérito reconhecido. Temos grande afecto pelo Bob e estamos radiantes por o poder felicitar e à sua família", referem na carta, citada pela France-Presse.

Apenas o Vaticano criticou a escolha, justificando que o investigador é responsável por um mercado "que vendeu milhões de ovócitos". Sem Edwards não haveria no mundo congeladores cheios de embriões", afirmou Ignacio Carrasco de Paula, o presidente da Pontifícia Academia para a Vida, que lida com questões de ética e vida, citado pela agência Ansa.

João Silva Carvalho, especialista em medicina da reprodução, disse ao DN que veio resolver um problema e que já garante 2% a 3% dos nascimentos na Europa e 1% em Portugal. A partir desta técnica surgiram muitas outras no âmbito da procuração medicamente assistida", refere o médico.

O mentor da introdução desta técnica em Portugal, Pereira Coelho, que conheceu Edwards durante a sua estadia em Paris, disse ao DN que esta escolha "apenas pecou por ser tardia. Passaram trinta anos até que Edwards fosse reconhecido, bem como os antecessores que originaram esta descoberta", afirma. O médico foi para Paris em 1983, cinco anos depois de anunciada a descoberta, com o objectivo de "fazer um estágio de preparação para a tese de doutoramento, precisamente na área da FIV. A minha actividade de investigação começou precisamente com um simpósio em que Robert Edwards esteve presente e me foi apresentado. Era extremamente simpático e, por razões óbvias todos queriam falar com ele".

Em Portugal, foi criada a unidade pluridisciplinar de reprodução humana em 85, uma parceria entre a Faculdade de Medicina de Lisboa e o Instituto Gulbenkian da Ciência. "À terceira tentativa tivemos sucesso", refere. A 25 de Fevereiro de 1986 nascia Carlos Miguel Saleiro. O primeiro bebé-proveta em Portugal é actualmente jogador do Sporting. "A partir dele houve enormes progressos. Ao fim de oito tentativas já havia três grávidas", conta o médico.

fonte: DN

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