sexta-feira, 6 de agosto de 2010

As sedes das agências secretas num só mapa. Obra de portugueses

Através do Google Maps, três jovens portugueses localizaram mais de 180 serviços secretos e foram notícia mundial


Mapa dos serviços secretos

Até aqui, localizar as agências secretas mundiais era como jogar o "Onde está o Wally?" - sabíamos que estavam lá, mas eram difíceis de encontrar. Para os interessados, o problema está resolvido. Três jovens portugueses passaram dois meses a recolher, verificar e a cruzar dados para, a 18 de Março deste ano, porem online o "World Intelligence HQs". Através do Google Maps, todas as localizações - mais ou menos secretas - dos serviços de informações dos Estados Unidos à China, passando pelo Zimbabué, foram expostas.

"A ideia inicial era mapear os serviços de informações ocidentais. Mas rapidamente o mapa se tornou global graças à ''intel'' que íamos compilando", explica ao i, por email, Ana Paula Coimbra, uma das autoras do projecto juntamente com Yannick Carvalho, estudante de 25 anos de São Brás de Alportel, e André de Borges, de 24 e agente de seguros em Coimbra. Gente nova e "normal", fascinada pelo mundo da espionagem. "Esse fascínio não vem, de certeza, dos filmes do James Bond. Talvez dos livros de Le Carré, Graham Greene ou Len Deighton. É um mundo onde os heróis não são conhecidos", confessa Ana Paula, 26 anos, de Carnaxide.

No mapa, que Ana vinca ter sido feito com base em informações públicas, estão assinaladas 180 secretas de dezenas de países: a toda poderosa CIA (Estados Unidos), a musculada Mossad (Israel), o mítico MI6 (Reino Unido) e o nacional SIED. Também lá estão outros actores menos conhecidos - como a Vevak iraniana, o KGB bielorrusso ou a CIO do Zimbabué. Desengane-se quem acha que a tarefa foi simples. "Tivemos algumas dificuldades com alguns serviços asiáticos, nomeadamente o MSS da China e locais da Coreia do Norte", explica Ana que, com Yannick e André, investiram seis a oito horas por semana no projecto.

Nenhum dos três elementos tem ligações a agências de informações e, aparentemente, não mostram desejo de trabalhar para elas - para já. Este guia Michelin da espionagem já mereceu a atenção do "Washington Post" e de vários profissionais da área, especialmente dos Estados Unidos e do Reino Unido. Mas nenhuma secreta tocou à campainha de Ana Coimbra. "Duvido muito que sejamos contactados. E se formos, caso seja um serviço estrangeiro, informaremos as autoridades nacionais."

Ao trabalhar no mapa, nenhum dos três alguma vez pensou estar a meter--se em problemas. A verdade é que as informações recolhidas pelos jovens portugueses podem ser usadas por grupos com fins menos lícitos. "Tivemos esse receio. Mas, repare, a informação que disponibilizamos é de fonte aberta."

O mapa, salpicado de bandeirinhas nacionais, mostra a dimensão de uma indústria verdadeiramente mundial e muito, ou nada, escrutinada pela opinião pública. Aquilo a que, aplicado ao caso americano, o "Post" dizia ser uma "geografia alternativa" onde uma rede de agências e departamentos, e as suas burocracias numerosas, operam nas margens: o mundo "top secret".

Ana Coimbra olha para os serviços secretos como "peças fundamentais no jogo estratégico e imprescindíveis na vigilância interna" e defende que sejam atribuídos mais poderes ao SIS e mais meios ao SIED. "Precisamos de bons serviços para que os nossos decisores políticos sejam bem informados", conclui.

Num mundo de sombras, Ana e os companheiros preferem não dar a cara e prometem continuar a actualizar o site.
 
fonte: Jornal i
 

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