quinta-feira, 29 de julho de 2010

Hungria intimada a devolver 80 milhões de euros de arte roubada pelos nazis


Agonia no Jardim, de El Greco

Os herdeiros do industrial e financeiro húngaro de origem judaica Mór Lipót Herzog (1869-1934), um dos mais notáveis coleccionadores de arte da primeira metade do século XX, processaram o governo da Hungria, exigindo a devolução de mais de 40 obras, estimadas em cerca de 80 milhões de euros, que foram roubadas pelos nazis e que se encontram hoje em vários museus do país.

Além de referir expressamente dezenas de peças, como a "Agonia no Jardim", de El Greco, a "Primavera", de Gustave Courbet, a "Senhora das Margaridas", de Jean-Baptiste Camille Corot, o "Retrato de Don Baltazar Carlos", de Alonso Cano, a quem chamaram “o Miguel Ângelo de Espanha”, e ainda obras de pintores como Francisco de Zurbarán, Lucas Cranach, Diego Velázquez ou Claude Monet, o documento preparado pelos advogados da família exorta o governo húngaro a apresentar um inventário de todas as obras de arte provenientes da colecção do barão Herzog que mantém em museus e outras instituições estatais.

O motivo desta cláusula, segundo o jornal norte-americano "New York Times" inédita em processos judiciais visando a recuperação de obras de arte espoliadas pelos nazis, deve-se à convicção de que o estado húngaro poderá conservar muitas outras peças da colecção, além das identificadas.

David de Csepel, bisneto de Mór Lipót Herzog e representante dos seus herdeiros nesta acção legal, explica que a decisão de recorrer aos tribunais só foi tomada após “décadas de frustração” em sucessivas tentativas falhadas de negociar com as autoridades húngaras. Ao longo dos anos, vários senadores dos Estados Unidos, incluindo o recém-falecido Edward Kennedy e a actual secretária de Estado Hillary Clinton, procuraram, sem êxito, persuadir a Hungria a satisfazer as reclamações dos Herzog.

O cônsul-geral húngaro em Nova Iorque, Gabor Foldvari, afirmou ao "New York Times" que a decisão de não devolver as obras só foi tomada após um tribunal húngaro ter deliberado que o governo tinha o direito de as conservar. Um juízo que não implica que a Hungria não reconheça a proveniência das obras, já que várias delas estão expostas em museus estatais com a indicação de que vieram da colecção Herzog.

Há 15 anos, a família chegou a propor uma divisão das obras, mas o governo húngaro recusou, ao contrário dos seus homólogos austríaco e alemão. Este último devolveu, já este ano, três peças da colecção: uma caixa de rapé que terá pertencido a Frederico, o Grande, uma obra do pintor quatrocentista alemão Bartholomäus Zeitblom e o Retrato de Sigismund Baldinger, pintado em 1545 por Georg Pencz, que a família leiloou este mês na Christie"s e que foi comprado por mais de seis milhões de euros. David de Csepel, que tem 44 anos e vive na Califórnia, informou que a verba se destina a financiar as várias litigações que a família tem em curso, não apenas na Hungria, mas também na Polónia e na Rússia.

A família anda há décadas a tentar recuperar pelo menos parte da colecção que pertenceu ao seu antepassado, e tudo leva a crer que esse esforço se prolongará por muitos anos, dada a enorme quantidade de peças em causa, muitas delas actualmente sem paradeiro conhecido. Os Herzog estão convencidos de que uma parte importante do acervo possa ter sido levado para a então União Soviética após a derrota dos nazis.

Entre pintura, escultura e outras peças, Mór Lipót Herzog terá reunido mais de 2500 obras de arte, compradas com os consideráveis lucros das plantações de tabaco que tinha na Macedónia.

fonte: Público

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